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11 fev 2015

Brasileiros fazem sucesso em Londres com criações cheias de personalidade

RIO — Espremida entre o extenso calendário de desfiles de Nova York e a festejada semana de moda de Milão, Londres usa de seu velho trunfo para não ser engolida pela concorrência: criatividade. Não param de pipocar talentos nas passarelas inglesas. É estilista grega apostando em estampas nada óbvias; uma turma de britânicos conquistando espaço em casas tradicionais; e brasileiros que se destacam com uma moda minimalista, sem regionalismo. Barbara Casasola e Lucas Nascimento, por exemplo, fazem roupa para o mundo, tal como Mariana Jungmann, que apresenta suas coleções no Fashion Scout, evento que divulga novos designers, e Fernando Jorge, joalheiro que faz sucesso entre as estrelas do cinema. O Brasil está em alta na terra da rainha.

— O nosso país vem passando por um amadurecimento cultural, reconhecendo suas próprias forças e fortalecendo sua identidade. Londres foi rápida em perceber isso. A cidade é muito receptiva ao pensamento independente. Esse interesse pelo novo é algo que dá quase para sentir no ar — explica Fernando, que trocou São Paulo pela capital britânica em 2008. — Vim para fazer mestrado em Design de Joias na Central Saint Martins — recorda o designer, que estudou inicialmente Design de Produto, na Mackenzie. — Minha primeira oportunidade foi numa joalheria. A afinidade foi imediata. A partir daí, as coisas se encaixaram. Foi uma paixão acidental.

Natural de Campinas, Fernando Jorge, de 35 anos, viu suas joias esculturais e cheias de curvas serem adotadas pelas atrizes Mila Kunis, Emma Watson e Julianne Moore. Mas ele não se deslumbra:

— Encaro isso como uma consequência feliz e não como uma finalidade. As clientes que acreditam em mim são tão ou mais importantes do que as famosas.

Os looks de linhas simples da gaúcha Barbara Casasola, de 30 anos, também entraram para o closet de vips, como as atrizes Gwyneth Paltrow e Michelle Dockery. Todas amam suas criações chiques, com sensualidade sutil.

— O Brasil e minhas memórias de infância e adolescência são, com certeza, minhas maiores fontes de inspiração. Minhas amigas e clientes, cidadãs do mundo, descoladas, engajadas e elegantes, são outras referências — comenta Barbara, que debutou na semana de moda de Londres na edição de verão 2014. Na ocasião, ela foi o talk of the town com uma coleção influenciada pela artista plástica Lygia Clark. — Depois que entrei para o line-up oficial, a marca ganhou visibilidade e o apoio da imprensa britânica — comemora.

A estilista chegou a Londres em 2003 para estudar. Após uma temporada na Central Saint Martins, seguiu para a Itália, onde trabalhou ao lado de Roberto Cavalli. Mais tarde, foi a vez de Paris, com paradas nos ateliês das grifes Lanvin e See by Chloé.

— Foram experiências maravilhosas. Aprendi como funciona um estúdio de design, desde a parte de pesquisa de materiais até o desfile. Com o Cavalli, conheci a qualidade do ‘Made in Italy’. Em Paris, foi uma fase mais voltada para o conceito — avalia Barbara.

A etiqueta própria só foi lançada no verão 2012, na capital inglesa:

— Londres acredita em criatividade e talento, independentemente da nacionalidade do estilista.

Nascido no Mato Grosso do Sul, Lucas Nascimento, de 34 anos, jura que não sofreu com o frio londrino, nem para se enturmar. Sua adaptação foi tranquila. Há 12 anos na cidade, ele estudou na London College of Fashion e fez sua vida por lá. A entrada na fashion week local foi um caminho natural.

— Participei do Fashion Rio durante um período, mas não fazia sentido mostrar as minhas coleções no Brasil, já que a sede da minha marca é aqui. Mas olho constantemente para a fauna e flora do meu país na hora de criar. Tenho orgulho de ser brasileiro. Sei que nunca serei inglês — aponta o designer, reconhecido por dominar a técnica do tricô. — É a base da minha etiqueta, mas também uso tecidos planos.

Lucas se prepara para fazer sua sétima participação na semana de moda de Londres — o desfile acontece no dia 21 de fevereiro, no mesmo dia das grifes J.W.Anderson, House of Holland e Gareth Pugh.

— Com o tempo, fiquei mais confiante e seguro — dispara o estilista, que tem uma justificativa para a metrópole ser este celeiro de talentos. — As faculdades estimulam mais a criatividade do que a execução. Sem falar que é um lugar jovem, com pessoas do mundo inteiro. As referências estão todas nas ruas, bem na cara.

Mariana Jungmann, que prefere não revelar sua idade, faz parte do time do Fashion Scout, evento destinado aos novos criadores. A estreia foi no inverno 2014/2015. Na passarela, couro e renda renascença.

— Os ingleses ficam maravilhados com todo o trabalho e delicadeza da renascença e gostam muito da forma como eu a interpreto — diz Mariana, formada pela Anhembi Morumbi e com mestrado pela London College of Fashion.

Apesar de estar dentro da categoria de new designers, a estilista, de Goiânia, não trabalha com ideias extremamente conceituais:

— Acho que este momento passou. Foi bem forte no início da era Alexander McQueen. Hoje, há espaço para todos os estilos.

Alguém duvida?

Fernando Jorge faz joias badaladas entre as famosas Foto: Divulgação

Fernando Jorge faz joias badaladas entre as famosas Foto: Divulgação


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