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30 jan 2012

Tem também para eles

Moda masculina ainda se faz de peças clássicas e práticas, mas ganha modernidade com novos materiais e cortes


Entra temporada, sai temporada, e no fim de cada semana de moda surge a questão: O que elas vão usar na próxima estação? Ora repaginadas, ora nostálgicas, as peças do guarda-roupa feminino sempre trazem surpresas. Mas e o deles? Poucos dias após o encerramento da São Paulo Fashion Week Inverno 2012, a pergunta fica: O que os homens vão usar?



É fato que, tirando o trio paletó, calça e camisa, e suas variações, não há muito mais itens a reinventar, desconstruir ou revisitar na moda masculina. Que o digam os estilistas brasileiros que investem em coleções exclusivas para homens. João Pimenta, Alexandre Herchcovitch, Mario Queiroz, que agora também traz desfile misto, tiveram de bordar muito para propor novidades para eles. “A brasileira evoluiu muito, mas o homem nem tanto. O brasileiro ainda associa a forma de vestir com a questão da sexualidade. Só aos poucos está mudando”, comentou Herchcovitch com o Estado, logo após seu desfile.


Para o inverno 2012, ele trouxe uma proposta que vai ao encontro das ideias das grandes grifes internacionais, que há pouco apresentaram suas novas coleções na Milano Moda Uomo (semana de moda de Milão dedicada à moda masculina). Grifes como Prada, Burberry e Alexander McQueen mostraram leitura contemporânea de clássicos do vestuário masculino. Ternos e paletós continuam, mas ganham novos tecidos e texturas, cortes mais justos e arrojados.


De volta ao cenário nacional, Herchcovitch, que foi educado em colégio israelita, levou para a passarela do último dia de SPFW o modo peculiar de se vestir dos judeus ortodoxos. As franjas que davam movimento aos looks eram referência aos tzitzit (as franjas dos tradicionais talits, xale religioso que é usado debaixo da roupa escura). O recurso tem ótimo efeito e tira a sisudez de looks tradicionais.


Já João Pimenta, que para este inverno propõe o estudo de materiais e formas dos séculos 17 e 19, queria brincar com o recorte do terno e com a imagem do médico e monstro que cada um tem. Foi procurar inspiração no Steampunk, movimento que evoca ícones do passado para construir um novo presente. E é exatamente o que o estilista fez em seus ternos, saias longas, golas imensas, degagés, drapeados nas calças, grandes botões, reinventando o terno. “É uma peça tão básica e careta sempre. Queria brincar com isso e continuar fazendo moda muito masculina”, contou Pimenta que, focado na alfaiataria, precisava do couro para criar as peças que remetiam a uma vestimenta masculina rústica e fashion. “Eu, que sou contra o uso de peles, tentei inicialmente usar couro sintético. Mas fui pesquisar sobre isso e cheguei à conclusão de que o couro sintético é feito de PVC. É plástico. Ou seja, nada ecológico. Então, voltei para o couro natural. De qualquer forma, esta questão da pesquisa de materiais, e da pele, ainda precisa ser mais discutida.”


Mais debatida também necessita ser a inovação no campo da moda masculina. Se Herchcovitch e Pimenta subvertem o clássico para propor algo novo, é fato que a pesquisa de tecidos específicos para os homens ainda engatinha. Além do couro, Pimenta queria usar tecidos e lãs de aparência rústica para reproduzir o aspecto dos teares antigos, mas teve de desenvolver os próprios tecidos com artesãos do Nordeste.


Já Herchcovitch não atribui tanto peso à pesquisa de materiais exclusivos para homens. “Invisto sempre no estudo de tecidos em geral, seja masculino ou feminino. Não busco um ‘tecido masculino’, mas sim matéria-prima boa. O que muda para o homem é o corte, a aplicabilidade das roupas. Moda masculina é mais prática”, comentou ele, cujas peças favoritas em seu desfile eram os cas