Menos de seis meses após ter sido atingida, em 12 de janeiro, por uma enchente que deixou um rastro de 426 mortos e 68 desaparecidos, a cidade de Nova Friburgo, região Serrana do Rio de Janeiro consegue reativar seu evento anual de moda íntima que está sendo considerado pelos empresários locais um símbolo de recuperação econômica. A Feira de Vestuário de Nova Friburgo (Fevest), não realizada no ano passado por problemas de custos, ressurge de hoje até quinta-feira no formato de circuito satélite de lojas e fábricas durante o dia e desfiles de moda e palestras à noite.
“Só pelo fato de estarmos conseguindo organizar o evento menos de seis meses depois de uma tragédia da proporção que tivemos e envolver toda a região já representa uma grande vitória”, comemora o empresário Paulo Chelles, presidente do Sindicato das Indústrias de Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), entidade que organiza o evento com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e de várias instituições do Estado e do governo federal.
Segundo Chelles, o setor retomou as contratações e já começa a ter carência de mão-de-obra. Nova Friburgo e região respondem, segundo dados do Sindvest, por 25% da produção de moda íntima brasileira.
Além de Nova Friburgo, metrópole regional de 182.016 habitantes (Censo 2010), o polo de moda íntima reúne empresas dos municípios de Bom Jardim, Cordeiro, Cantagalo, Macuco e Duas Barras. O circuito satélite vai percorrer três bairros, dois deles, Olaria e Conselheiro Paulino, fortemente atingido pela tragédia de janeiro.
Os visitantes e compradores percorrerão 67 empresas espalhadas pelos três circuitos e poderão visitar também exposições de indústrias das demais cidades que ficarão concentradas em um hotel da praça do Suspiro, um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, duramente atingida pela enchente que destruiu o teleférico que ligava a praça a uma montanha próxima. Também na praça está montada a tenda de desfiles e das palestras que este ano vão priorizar o tema da tenacidade, tendo como maior estrela o navegador solitário Amir Klink.
O polo de confecções e moda íntima de Nova Friburgo concentra, segundo dados do Sindvest, 12.209 empregos diretos, estando na cidade cerca de 80% das empresas do polo. Em abril, menos de quatro meses após a tragédia, a cidade registrou pela primeira vez saldo positivo de empregos formais, 217 novas vagas segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
Foi o terceiro melhor abril da história da pesquisa, perdendo apenas para abril de 2010 (290 vagas) e de 2006 (222 vagas). “Não se esperava uma recuperação tão rápida”, disse Chelles, afirmando que em maio os números, ainda não divulgados, também foram positivos. A região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, onde morreram ou desapareceram 1.297 pessoas na tragédia, registrou perdas de 1.844 empregos de janeiro a março.
O presidente do Sindvest disse que o modelo de circuito satélite, além de ser muito mais barato do que a feira fechada que acontecia anteriormente (cerca de R$ 1,5 milhão), permite às empresas investirem nas suas instalações para apresentá-las aos visitantes e ainda permite que as pessoas vejam os esforços pela recuperação física, apesar do muito a ser feito nos próximos anos. As marcas das tragédia ainda estão visíveis na cidade. (CS)
Fonte: Valor
http://www.valoronline.com.br/impresso/empresas/102/446495/nova-friburgo-reativa-feira
