Topo
Sindivestuário / Associados  / Moda plus size ganha maior representatividade e anda de bem com as tendências
25 nov 2015

Moda plus size ganha maior representatividade e anda de bem com as tendências

Embora a moda se esforce a cada temporada para criar tendências que sigam para uma democratização, há um segmento que ainda caminha na “corda bamba”: o plus size. Já parou para listar quantas marcas oferecem as mesmas peças da “moda para magro” em tamanhos que extrapolam o 44?

É preciso reconhecer, entretanto, que aos poucos esse mercado vem ganhando os holofotes. Na semana passada, por exemplo, o famoso reality show de moda norte-americano, “Project Runway”, disputado por estilistas iniciantes, apresentou, pela primeira vez em 14 edições, modelos plus size. A designer Ashley Tipton, 24, vencedora do programa, levou o prêmio pela criação de uma coleção inteira em tamanhos maiores. Sem contar as linhas desenvolvidas em parceria com celebridades, como as atrizes Melissa McCarthy e Rebel Wilson.

As conquistas são, de fato, relevantes, embora ainda existam poucas marcas que se preocupam com a população que está acima do peso e quer andar no compasso das tendências. “O público plus size quer moda e quer pagar por ela, mas, por enquanto, ainda existem poucas opções. A marca que levar em consideração a demanda desse público mais amplo conseguirá ter maior visibilidade”, explica Carla Mendonça, consultora e professora do curso de design de moda da Fumec.

Um “plus” a mais

Só em 2013, o plus size movimentou mais de R$ 4 bilhões no país e atualmente representa 5% do faturamento total do segmento de vestuário, segundo dados da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest). Destaques relevantes como a da vencedora do “Project Runway” funcionam como vitrine, principalmente para o consumidor. “A coleção dela poderia ser renegada em outro momento, mas aos poucos percebe-se que é necessária uma adaptação do mercado a corpos diferentes”, disse.

A rede de fast-fashion Forever 21 trouxe para Belo Horizonte a linha plus size (a segunda do Brasil) em uma seção especial. “As lojas de departamentos começaram a sacar esse mercado de maneira melhor e a colocá-lo em prática de forma mais abrangente. Mas ainda há uma diferenciação das peças. A questão não é distinguir o que é ou não plus size e sim aumentar a grade de numeração”, acredita.

De acordo com Isabela Felga, diretora da PMG, marca de lingerie com peças que vão até o 52, não basta apenas aumentar a quantidade de tecido, é preciso investir em qualidade e conforto para as peças. “A moda é democrática. De que adianta colocar uma modelo que veste 36 na capa de nossos catálogos se a maioria de nossas clientes não irá se identificar com aquele corpo?”. Isabela ainda acredita que em 30 anos todas as marcas de moda do mundo serão all sizes, ou seja, atenderão todos os públicos. “Quem não seguir essa tendência perderá competitividade”.

A grife mineira Kalandra também faz questão de trabalhar com uma numeração bem variada nas suas araras, com tamanhos que vão até o manequim 54 – indo na contramão da maioria das marcas, que vão até o 42 – e não acredita que o caminho para a democratização seja se firmar como um plus size.

“Atualmente, 80% de nossas produção e vendas representa a numeração 46 e 48, que é considerada plus size, terminologia da qual sou contra. Isso porque o plus size está ainda muito atrelado ao conceito de obesidade, o que é completamente equivocado. A pessoa que veste acima do 44 nem sempre está acima do peso. Ela pode ser grande, larga, alta… As pessoas estão maiores. Todas as mulheres têm o direito de se vestirem bem, independentemente do peso”, acredita Ana Flávia Castro, diretora comercial da grife.

Carla Mendonça concorda com o fato de não precisar dessa diferenciação do plus size. “Tudo é questão de se adaptar. Se for pensar na passarela, ninguém tem um corpo de modelo, isso é fato. Mas a moda coloca isso como linguagem, para adaptar-se ao corpo normal do consumidor. Se você amplia o público, você trabalha com a moda mais inclusiva”, finaliza.

GG também é fashion

Atentas ao movimento GG, várias marcas já descobriram que as cheinhas estão dispostas a gastar em peças que transpareçam a essência fashion. Um dos desafios das marcas, entretanto, ao pensarem em investir em números maiores, é enfrentar os tabus que cercam a moda plus size e o eterno dilema “isso pode ou não pode?”.

Para Dani Salomão, que possui há três anos a marca homônima para as cheinhas, acredita que esse segmento está se atualizando cada vez mais por conta do crescimento do mercado. “O plus está ganhando destaque por conta de novo padrão corporal. Antes, ele era associado somente a mulheres mais velhas, e hoje tem muitos jovens que querem usar também saias e shorts curtos. A sociedade cobra da moda outra postura. Todo mundo quer estar jovem e bonito”, acredita.

Ao criar peças, Dani tem a preocupação especial com os cortes, que precisam ser pensados para alongar a silhueta. “Não tenho limitado o que pode ou não usar. Ninguém quer vestir roupas com ares caretas. Trabalho em cima de decotes, estampas bacanas e sobreposições. Adapto as mesmas tendências para o plus size. A calça pantacourt, por exemplo, tem na coleção, mas a barra é mais reta, sem muito tecido, para causar a sensação de não achatar a silhueta. Tudo isso representa pequenos cuidados para que a roupa fique adequada a quem for usar, sem comprometer em nada”, explica.

Cada vez mais democráticas, as peças maiores estão caminhando para uma mudança de padronagens, como acredita Carla Mendonça. O que precisa, segundo ela, é justamente a quebra de algumas regras de styling. “A primeira coisa que se deve fazer é marcar a cintura, pra trabalhar justamente com a forma feminina. Se a mulher tem curva, é pra valorizar. Outra ideia equivocada é achar que todo vestido de festa precisa tampar os braços. Às vezes pode-se até ter uma ilusão de aumentar o braço se tampá-lo. O preto é claro que ajuda e disfarça, mas às vezes uma estampa pode valorizar ainda mais o corpo, de acordo com o tom dos olhos ou da pele”, ensina.

 Fonte: O Tempo