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27 nov 2015

Moda inteligente para gente mais do que especial

Após enfrentar dois tratamentos contra o câncer, Ana Ekerman teve a ideia de criar uma linha de roupas bonitas e funcionais para quem tem dificuldades motoras

Reprodução

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Formada em administração de empresas, a empresária paulistana Ana Cristina Ekerman, 44 anos, fez de sua experiência de vida um negócio. Ao se recuperar de um câncer de mama e depois de enfrentar duas novas investidas da doença – no maxilar e na cabeça –, criou uma linha de roupas específicas e muito úteis a portadores de doenças que restringem o movimento, de cadeirantes a quem quebrou o braço. Batizou a marca de Adaptawear e vende suas peças apenas pela internet.

Apoio total do maridão 
A ideia nasceu durante uma viagem aos Estados Unidos, em 2008. A mulher de seu primo havia criado uma camiseta-babador para o filho, que não controlava a salivação. “Achei aquilo incrível, a pessoa podia usar a camiseta sem qualquer constrangimento. Jamais tinha visto algo parecido no Brasil”, conta Ana Cristina, que, de volta ao trabalho, acabou se envolvendo com a ONG Américas Amigas. Sua formação de administradora levou-a ao cargo de gerente-geral da ONG, nascida da união de brasileiros e americanos na luta pela diminuição do número de mortes causadas pelo câncer de mama no Brasil, especialmente entre a população de baixa renda. A associação, qualificada como Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), possui o Certificado de Entidade Promotora de Direitos Humanos e atua na conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença, doa mamógrafos a instituições que atendem pacientes do SUS e promove treinamentos e cursos de aperfeiçoamento para técnicos e médicos. A vontade de ter o próprio negócio já germinava desde 2008.

Porém, no fim de 2011, um novo problema de saúde interrompeu seus planos. “Tive uma recaída do câncer, dessa vez na mandíbula. No meio do tratamento, surgiu uma coisa na cabeça. E, ainda por cima, meu plano de saúde não cobria o tratamento que eu precisava fazer”, conta ela. O ano de 2012 foi tomado por mais uma luta de Ana Cristina contra o câncer, sem que ela abandonasse seus sonhos e projetos.
No fim de 2013, Arley José Gonzalis, marido de Ana Cristina, sugeriu que ela fizesse o curso Empretec, promovido pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em que são avaliadas as principais características de um empreendedor. Numa parceria do Sebrae com a ONU (Organização das Nações Unidas), o curso funcionou muito bem para Ana Cristina: “Você aprende o que é ser um empreendedor. Sai de lá dizendo ‘isso não é para mim’ ou fica bem animado.
A segunda opção foi o caso de Ana Cristina, que contou com apoio total do marido. Arley, engenheiro especializado em auditoria de qualidade em produções de larga escala, entrou como parceiro não apenas ajudando na parte técnica, mas também investindo dinheiro para que Ana montasse a Adaptawear.
Munida de informações, Ana fez corretamente sua lição de marketing. “Pesquisei muito, entre idosos, entre pessoas com as mais variadas doenças, como mal de Parkinson, sobreviventes de AVC e cadeirantes com as mais variadas origens de deficiência.” Além disso, buscou em outros países soluções que pudessem facilitar a vida de deficientes e enfermos.
“Inspirei-me em marcas da Europa, onde o mercado de moda para deficientes é bem desenvolvido e o assunto é levado a sério”, diz Ana. “O cadeirante é o que tem mais carência. Uma calça para quem usa cadeira de rodas deve ter o cós de trás mais alto para que o ‘cofrinho’ não apareça e também deve ter um pouco de elastano para dar mais conforto, já que essas pessoas passam o dia todo sentadas. É preciso facilitar a vida na hora de ir ao banheiro, com o uso de velcros laterais nas calças e nas blusas. E criar passagens na roupa para os coletores de urina. Tetraplégicos têm problemas nas mãos, então o zíper deve ter um gancho, um puxador que os ajude”, explica Ana, orgulhosa.
Para colocar todas as ideias em prática, respeitando os quesitos de conforto, praticidade e beleza, a empresária contratou uma estilista, costureiras e contou com a ajuda de um casal de amigos cadeirantes, que foram seus modelos durante a confecção das peças-piloto. “Formei meu grupo de apoio ao longo de 2013, além de fazer o curso de e- -commerce para aprender a vender pela internet. Também tive de entender como funciona a cadeia produtiva na indústria do vestuário e acabei optando por terceirizar todas as etapas da produção.”Ana não pretende ter uma loja física e ainda não está preparada para criar roupas sob encomenda.
Mas quer encontrar mais parceiros no varejo para poder vender seus produtos, todos eles criados com o propósito de ajudar quem precisa e também aqueles que não se entregam à doença e querem ter autonomia para frequentar qualquer tipo de ambiente.
Outro desejo é sensibilizar alguma marca famosa a dedicar parte de sua produção a esse público específico. A bolsa canguru, com mosquetão que a prende à cadeira e fecho adapt ado para quem tem problemas de coordenação motora, por exemplo, já é vendida por um grande comerciante de produtos para deficientes, a Cavenaghi.
Imobilidade momentânea
“Nossa linha de roupas, porém, não é destinada apenas aos deficientes, mas a quem tem uma imobilidade momentânea”, explica Ana. “Se você fez um pós-operatório, por exemplo, e está com o braço imobilizado, pode procurar roupas no meu site que o ajudem a ficar mais independente”, explica.
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Fonte: Revista Sou mais eu