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28 nov 2012

Criatividade para um mercado mutante

A Alameda Gabriel Monteiro da Silva, principal rua de decoração e design de São Paulo, liga avenidas importantes da cidade, tem um supermercado que atende as residências adjacentes e duas escolas frequentadas pela elite paulistana. Às 17 horas de uma segunda-feira o tráfego é intenso. Mas nas lojas o movimento é calmo. São poucos os carros estacionados defronte às vitrines que exibem grifes de luxo do mobiliário brasileiro e mundial. E isso não surpreende. “Nosso setor não vive a euforia pela qual passam outros segmentos da indústria e do consumo”, afirma o empresário Hélio Bork, sócio da Montenapoleone, que vende as principais marcas de alto padrão do design italiano.

O tom de Bork, que também representa a empresa dinamarquesa de áudio Bang & Olufssen, não é de desencanto. Ao contrário. A Montenapoleone vai crescer 10% neste ano e ele julga o resultado positivo. “Nunca vamos ter nada superior a 30%. Vendemos bens duráveis. Não há a velocidade da moda”, completa. Ele aponta, no entanto, outros indícios de que o mercado está bom e mudando. “Minha relação com os fabricantes italianos é outra. Por causa da crise, eles querem estar no Brasil e estão fazendo mais concessões nas relações comerciais; estão mais interessados em criar produtos específicos para o mercado brasileiro”. Outro vestígio é a presença de “barões” do setor no país. Neste ano, Bork recebeu os italianos Piero Lissoni e Ferrucio Laviani e o francês Philippe Starck.

Laviani, que já morou em São Paulo por oito anos, voltou à cidade em novembro para apresentar suas criações para Molteni & C, representada pela Montenapoleone. Em um português italianado, ele conta suas impressões sobre o país, 20 anos após sua estada. “Estive aqui na década de 1990 e o país vivia aquela instabilidade econômica. Hoje estamos olhando para cá, atentos ao crescimento. Essa mistura cultural é sempre importante”, diz Laviani, que foi discípulo de Achille Castiglioni e Vico Magistretti e é diretor criativo da Kartell.

As mudanças pelas quais a sociedade passou nos últimos anos desaguaram, sim, no design de alto padrão. Há uma citação à boca pequena que diz que o “design é a nova moda”, referindo-se à indústria do vestuário. “Peças únicas feitas artesanalmente e personalizadas com assinatura e design autoral têm um valor material, simbólico e emocional maior. Torna-se uma peça de design icônico e exclusiva, comparada a um objeto de arte”, afirma Sérgio Lage, consultor e professor de MBA executivo da ESPM.

Um público mais jovem, com acesso à informação e buscando diferenciação coloca o design em evidência. “O que de mais importante está acontecendo hoje é a aculturação do consumidor”, diz Hélio Bork.

O arquiteto, designer e empresário Pedro Paulo Franco concorda com essa atual doutrinação do consumidor. “Não podemos esquecer da força da classe média. A tendência é o design deixar de ser algo exclusivo para entrar no cotidiano das pessoas como acontece em mercados culturalmente evoluídos como o italiano”, diz Pedro Paulo, sócio da A Lot Of, loja de design autoral que deve crescer 20% neste ano.

Os arquitetos também se deparam com o desafio de atender a esse público em mutação. “O design hoje se tornou o novo mercado aspiracional. Assim, as pessoas passarão a ficar mais exigentes com o tempo e procurarão soluções menos padronizadas e mais personalizadas e criativas”, opina o arquiteto Guto Requena. A arquiteta Débora Aguiar sente que “o acesso à informação e a