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10 jul 2012

Ciclo e tendência

A sucessiva divulgação de dados conjunturais evidenciando a perda de dinamismo da indústria brasileira desde o início do ano passado vem suscitando um acalorado debate entre os analistas econômicos sobre a natureza cíclica ou tendencial dos seus determinantes. Nesse debate, os componentes cíclicos vem sendo comumente atribuídos aos efeitos contracionistas trazidos pela crise internacional, especialmente o imbróglio envolvendo a zona do euro e suas consequências sobre a percepção e a realidade da retomada dos mercados mundiais.

Nessa linha, há os que entendem que a verdadeira dimensão da crise externa demorou a ser prevista pelos formuladores da política econômica e, por essa razão, vem requerendo mais tempo para ter seus efeitos neutralizados. Adicionalmente, há os que agregam um conjunto de evidências sugerindo que a estratégia de expansão da demanda efetiva apoiada no estímulo ao consumo das famílias está encontrando seus limites, a despeito do fato de que a contribuição favorável do mercado de trabalho (desemprego em queda e salários em alta) ter se preservado. Do ponto de vista dos componentes de tendência, há grande insistência na ideia de que eles estejam ligados à perda sistêmica de competitividade da indústria brasileira associada ao crescimento dos custos salariais, de energia, de logística e etc. Embora esses motivos sejam pertinentes, cabe incluir na equação outros fatores tendenciais, esses estritamente estruturais, relacionados à pauta de produção muito commoditizada que vem se consolidando no país e a necessidade de incorporar atividades mais dinâmicas na matriz produtiva da indústria.

No final de junho último, o IBGE divulgou os números da Pesquisa Industrial Anual (PIA) para o ano de 2010. De longe a série mais adequada para municiar análises estruturais sobre a indústria, a PIA 2010 certamente irá ajudar a avançar no entendimento de algumas dessas questões. Para isso, no entanto, é necessário todo um minucioso trabalho de interpretação desses dados, para o qual ainda não houve tempo de realização. Por ora, é possível apenas contrapor os coeficientes que relacionam os valores nominais das diversas variáveis monetárias contempladas na pesquisa ou a sua distribuição intersetorial. Embora essa metodologia não evite as distorções trazidas por mudanças nos preços relativos, especialmente em análises mais agregadas, é possível extrair algumas conclusões iniciais sobre a evolução da indústria no período.


Em primeira análise, a comparação dos dados para o conjunto da indústria entre os anos de 2007 a 2010 mostra uma clara tendência de aumento do peso do componente salarial, que subiu de 9,4% para 10,5% do valor bruto da produção (13,8% para 15,3%, respectivamente, para o total da folha de salários, incluindo encargos). No entanto, esse aumento foi mais do que compensado pela contração do custo das operações industriais, que era de 57,4% do valor bruto da produção em 2007 e caiu para 54,3% em 2010.

Dentre os diversos itens de custo, destaca-se a queda nas despesas com aquisição de matérias-primas, materiais auxiliares e componentes que se reduziram em mais de 3 pontos percentuais, muito provavelmente como reflexo da apreciação cambial do período mas talvez refletindo também efeitos positivos sobre a eficiência trazidos pelo forte crescimento da atividade industrial ocorrido em 2010. Esse mesmo padrão de queda expressiva nos custos de operações industriais se repete ao nível setoria