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24 out 2012

As pequenas roubam a cena

Com desempenho consistentemente acima de boa parte das “blue chips” nos últimos anos, as ações de menor valor de mercado – ou “small caps”, como são chamadas no jargão financeiro – parecem ter fôlego para permanecer no radar dos investidores por um bom tempo. Enquanto o principal índice da bolsa, o Ibovespa, acumulou alta de parcos 3,8% no ano, até o dia 19, o índice Small Caps subiu 24%. O resultado se reflete também nas carteiras dos fundos. Os Ações Small Caps acumulam ganhos de 16,49% até o dia 16, o maior retorno entre as subcategorias de ações e o segundo maior entre todas as categorias de fundos, atrás apenas dos renda fixa índices. A questão é: há fôlego para mais?

Analistas e gestores de fundos dizem que as expectativas de reaquecimento da economia nos próximos anos trazem novo gás a esses papéis – ainda que muitos deles já tenham subido consideravelmente. Não bastasse o bom desempenho do índice, 30 dos 68 papéis que o compõem apresentam performance superior ao próprio indicador. É o caso, por exemplo, do frigorífico Minerva, em alta de 133% no ano até o dia 19, seguido por dois papéis no segmento de educação: Estácio e Kroton, com ganhos de, respectivamente, 108% e 103% no período. Ao se olhar os melhores desempenhos do índice no ano, no entanto, encontra-se de tudo: da empresa de serviços financeiros Valid (alta de 89%) à prestadora de serviços de engenharia Mills (valorização de 83%) e à incorporadora Helbor, em alta de 73%.

Em tempos de incertezas externas, o fato de boa parte dos setores presentes no índice de small caps estar voltada para a economia doméstica explica os ganhos do indicador. Estimativas do Credit Suisse apontam que menos de 10% do índice Small Cap corresponde a setores voltados ao mercado externo. Já mineração, petróleo e gás, siderurgia e papel e celulose ficam com mais de 50% do Ibovespa.

O sócio-diretor da Victoire Brasil Investimentos, Paulo Del Priore, lembra que o mercado local sempre foi muito focado em “large caps” [empresas de maior valor de mercado], mas os ventos hoje são outros. “Antes comprava-se o Ibovespa e esperava-se um evento de alta. Mas, desde o início da crise, a necessidade de ser mais seletivo fez o investidor, especialmente o de varejo, olhar para empresas fora do radar”, diz o gestor, cujo foco são empresas com fundamentos sólidos, mas que, por falta de cobertura do mercado, estão longe do valor considerado justo.

Gestores acreditam que a economia interna vai continuar aquecida, embora o alvo hoje seja o chamado ‘consumo discricionário’, como os papéis de companhias de educação e saúde, além de infraestrutura e bens de capital, no lugar das empresas de consumo mais óbvias, voltadas para alimentos e vestuário. “O setor de bens de consumo é negociado a um P/L [múltiplo preço sobre lucro] de quase 20 vezes, e isso é caro”, diz o sócio-executivo da Quest Investimentos, Walter Maciel. O indicador aponta, em tese, em quanto tempo o capital investido será recuperado, logo quanto menor, melhor.

Segundo Maciel, a análise de longo prazo da equipe econômica da Quest, liderada pelo ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros, mostra um Brasil diferente em 2020. O prognóstico é de um crescimento econômico sustentável de 3,5% ao ano, o que abriria espaço para uma queda significativa da relação entre a dívida e o PIB do país – para algo próximo de 20% – e uma renda per capita ao redor de US$ 18 mil. “Com os básicos representados por alimentos, vestuário, energia elétrica e telefonia saciados, teremos uma mudança radical no consumo, m