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12 ago 2011

Figurinos que falam

Tilda Swinton atribui sua sensibilidade fashion ao clima da Escócia, sua terra natal. “Por termos muitas vezes as quatro estações do ano num único dia, as pessoas são obrigadas a ser criativas na hora de combinar as peças diante do espelho, antes de sair de casa”, explica a atriz de 50 anos, em entrevista ao Valor, em Park City. Conhecida não só pelas personagens marcantes nas telas de cinema, mas pelos modelos inusitados nas premières e nos tapetes vermelhos, Tilda sempre dá atenção especial ao figurino das mulheres que interpreta. “Assim que imagino a personagem, penso imediatamente na maneira como ela expressa sua individualidade nas roupas que usa. Considero fascinante o fato de as escolhas de vestuário sempre refletirem nossa relação com o mundo, seja de forma consciente ou não.”


Emma Recchi, sua personagem em “Um Sonho de Amor”, deu à atriz a chance de registrar no guarda-roupa toda a transformação da dona de casa sufocada pela aristocracia de Milão. Presa a um casamento de conveniência, a mulher de um industrial têxtil conservador começa a abandonar os trajes austeros e as joias ao se apaixonar por um chefe de cozinha (Edoardo Gabbriellini), com idade para ser seu filho – e amigo de seu filho. Com a vida sem gosto, numa mansão fria e imponente, onde serve apenas de troféu para o marido, a protagonista redescobre o prazer ao dar a primeira garfada no prato de camarão preparado pelo jovem cozinheiro. “A transição de cores no vestuário ilustra o estado do seu subconsciente, quando ela começa a querer se libertar de todos os anos de confinamento. Não é por acaso que Emma se abre para o amor no dia em que usa um vestido vermelho”, diz Tilda.


Estrela, agora, das campanhas de inverno da grife Pringle of Scotland, a atriz também já desfilou para a marca holandesa Viktor & Rolf. “Minhas colaborações no mundo fashion são sempre muito prazerosas. Gosto de moda por ela me dar a chance de ousar e de ser autêntica.”


Em “Um Sonho de Amor”, filme do italiano Luca Guadagnino que chega aos cinemas brasileiros no dia 19, Tilda trabalhou em parceria com o estilista belga Raf Simons, da marca Jil Sander, na concepção dos figurinos. “Era fundamental contar com um profissional que enxergasse a relevância sociocultural da moda no contexto do filme. A emancipação da minha personagem coincide com a crise nos negócios da família, um momento em que todos ao seu redor querem manter as aparências, sempre em seus trajes caros em tons neutros. E isso só acentua mais a emoção que explode nas cores vivas das roupas da protagonista.”


Ainda que Tilda reconheça o peso do figurino na construção de um personagem, o mesmo não se aplica ao recurso da maquiagem. Tanto dentro quanto fora das telas, a atriz não é adepta de muito make-up. Prefere manter o rosto pálido, emoldurado por cabelos loiros curtos. “Gosto de cara lavada ou, quando muito, uma maquiagem bastante natural”, diz a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante de 2008, pelo retrato da implacável advogada coorporativa de “Conduta de Risco”. “As expressões faciais representam o maior trunfo de um ator na hora de transmitir as emoções e os pensamentos do personagem. Aquela camada extra no meu rosto não só me esconde como me impede de explorar mais profundamente o que mais gosto.”


Tilda faz aqui uma referência aos “momentos de revelação”, o que ela admite mais apreciar no decorrer de uma trama. “Não há nada mais instigante para mim do que chegar ao ponto em que o personagem se dá conta de algo que não esperava. E, de preferência, algo que provavelmente mudará o rumo de sua história. Adoro transmitir isso com o olhar, sem precisar verbalizar ”, conta a atriz, também lembrada pela bruxa de “As Crônicas de Nárnia” (com filmes em 2005, 2008 e 2010), pela heroína andrógina de “Orlando” (1992) e pela produtiva colaboração com Dere