Tilda Swinton atribui sua sensibilidade fashion ao clima da Escócia, sua terra natal. “Por termos muitas vezes as quatro estações do ano num único dia, as pessoas são obrigadas a ser criativas na hora de combinar as peças diante do espelho, antes de sair de casa”, explica a atriz de 50 anos, em entrevista ao Valor, em Park City. Conhecida não só pelas personagens marcantes nas telas de cinema, mas pelos modelos inusitados nas premières e nos tapetes vermelhos, Tilda sempre dá atenção especial ao figurino das mulheres que interpreta. “Assim que imagino a personagem, penso imediatamente na maneira como ela expressa sua individualidade nas roupas que usa. Considero fascinante o fato de as escolhas de vestuário sempre refletirem nossa relação com o mundo, seja de forma consciente ou não.”
Emma Recchi, sua personagem em “Um Sonho de Amor”, deu à atriz a chance de registrar no guarda-roupa toda a transformação da dona de casa sufocada pela aristocracia de Milão. Presa a um casamento de conveniência, a mulher de um industrial têxtil conservador começa a abandonar os trajes austeros e as joias ao se apaixonar por um chefe de cozinha (Edoardo Gabbriellini), com idade para ser seu filho – e amigo de seu filho. Com a vida sem gosto, numa mansão fria e imponente, onde serve apenas de troféu para o marido, a protagonista redescobre o prazer ao dar a primeira garfada no prato de camarão preparado pelo jovem cozinheiro. “A transição de cores no vestuário ilustra o estado do seu subconsciente, quando ela começa a querer se libertar de todos os anos de confinamento. Não é por acaso que Emma se abre para o amor no dia em que usa um vestido vermelho”, diz Tilda.
Estrela, agora, das campanhas de inverno da grife Pringle of Scotland, a atriz também já desfilou para a marca holandesa Viktor & Rolf. “Minhas colaborações no mundo fashion são sempre muito prazerosas. Gosto de moda por ela me dar a chance de ousar e de ser autêntica.”
Em “Um Sonho de Amor”, filme do italiano Luca Guadagnino que chega aos cinemas brasileiros no dia 19, Tilda trabalhou em parceria com o estilista belga Raf Simons, da marca Jil Sander, na concepção dos figurinos. “Era fundamental contar com um profissional que enxergasse a relevância sociocultural da moda no contexto do filme. A emancipação da minha personagem coincide com a crise nos negócios da família, um momento em que todos ao seu redor querem manter as aparências, sempre em seus trajes caros em tons neutros. E isso só acentua mais a emoção que explode nas cores vivas das roupas da protagonista.”
Ainda que Tilda reconheça o peso do figurino na construção de um personagem, o mesmo não se aplica ao recurso da maquiagem. Tanto dentro quanto fora das telas, a atriz não é adepta de muito make-up. Prefere manter o rosto pálido, emoldurado por cabelos loiros curtos. “Gosto de cara lavada ou, quando muito, uma maquiagem bastante natural”, diz a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante de 2008, pelo retrato da implacável advogada coorporativa de “Conduta de Risco”. “As expressões faciais representam o maior trunfo de um ator na hora de transmitir as emoções e os pensamentos do personagem. Aquela camada extra no meu rosto não só me esconde como me impede de explorar mais profundamente o que mais gosto.”
Tilda faz aqui uma referência aos “momentos de revelação”, o que ela admite mais apreciar no decorrer de uma trama. “Não há nada mais instigante para mim do que chegar ao ponto em que o personagem se dá conta de algo que não esperava. E, de preferência, algo que provavelmente mudará o rumo de sua história. Adoro transmitir isso com o olhar, sem precisar verbalizar ”, conta a atriz, também lembrada pela bruxa de “As Crônicas de Nárnia” (com filmes em 2005, 2008 e 2010), pela heroína andrógina de “Orlando” (1992) e pela produtiva colaboração com Dere