SÃO PAULO – A recente turbulência nos mercados internacionais ainda não afetou diretamente o comportamento do consumidor brasileiro, mas já acendeu o sinal de cautela entre as empresas. Enquanto os dados da pesquisa de vendas do varejo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram leve desaceleração das vendas até junho, relatos dos empresários indicam que esse movimento continuou em julho de forma díspar entre os setores e as regiões, mas ainda mais influenciado por fatores internos.
O maior endividamento das famílias, o aumento da inflação, a elevação da taxa básica de juros e as medidas do Banco Central para reduzir a oferta de crédito são os principais responsáveis pela desaceleração do comércio, segundo empresários e economistas do setor.
O varejo eletroeletrônico e de eletrodomésticos passou a identificar uma perda na velocidade de expansão há dois meses, além de registrar vendas menores que as do ano passado. “Há um ambiente macroeconômico bem diferente neste ano. Percebemos a desaceleração em maio, mas já era algo esperado”, diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem. “Há uma outra crise aí, e o que podemos fazer agora é um acompanhamento de perto para anteceder efeitos maiores.”
Com 105 lojas espalhadas pelo Nordeste, a rede pernambucana de móveis e eletrodomésticos Laser Eletro observou uma pequena desaceleração em junho e julho, mas os primeiros dias de agosto já trouxeram sinais de retomada do crescimento. Ricardo Uen, proprietário da companhia, diz que até o dia 10 deste mês as vendas estavam cerca de 15% maiores que em igual período do ano passado. “O cenário macroeconômico mundial tem uma influência menor no Nordeste, pelo momento que a região passa”, diz.
Há sinais mais claros de aumento de estoques de produtos não duráveis nas indústrias de consumo. Uma das maiores fabricantes brasileiras do setor, a Unilever (dona de marcas como Omo, Seda e Dove) informou dias atrás, em seu relatório mundial, que acumulou estoques nas fábricas no Brasil nos últimos meses. Entre abril e junho, o desempenho local “foi refreado por ações tomadas para diminuir os estoques no comércio”, de acordo com o relatório da empresa, que não citou números.
Na mesma linha, o presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, afirmou no fim de julho, para um grupo de analistas, que “à medida que os meses passam percebe-se uma maior dificuldade em fazer vendas”.
A crise, contudo, não alterou a rotina do empresário Pedro Joanir Zonta, dono da rede de supermercados Condor, com 30 lojas no Paraná e outras três previstas para serem abertas até o fim do ano. Também presidente da Associação Paranaense dos Supermercados (Apras), Zonta afirma que o comportamento do consumidor não mudou nos últimos dias. “É mais uma crise de bolsa.” O cronograma de encomendas da rede para o fim do ano não foi alterado, conta ele.
No segmento de artigos têxteis e calçados, as varejistas também não percebem sinais claros de desaceleração. Na Marisa, rede de vestuário, se a crise se aprofundar, o foco será brigar pelos recursos que sobrarem no bolso para o consumo. “A nossa mercadoria tem um preço médio mais baixo e tem um custo benefício muito bom para ele [comprador], então nós não temos visto isso [efeito da crise nos resultados]”, disse Paulo Sergio Borsatto, diretor da Marisa, quando questionado por analistas.
O economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, estima que o volume de vendas do varejo ampliado do país termine 2011 com crescimento entre 6% e 7%, abaixo dos quase 11% em 2010. Para ele, essa desaceleração, que será lenta, está mais relacionada com a alta dos juros e com as medidas do Banc