José
Pastore
Os analistas do mercado de trabalho passaram um bom tempo sem
prestar a devida atenção à demografia, até se depararem com a intrigante
pergunta: Como pode o Brasil ter só 5% de desempregados, se o Produto Interno
Bruto (PIB) cresce apenas 1,5% ao ano?
O estudo minucioso da dinâmica da
população está jogando luzes no túnel até então dominado pelas trevas. Em artigo
recente, Armando Castelar explica que, de 2003 a 2011, a proporção dos jovens
que procuravam emprego caiu de 61,4% para 59,9%. No mesmo período, a proporção
de idosos que estavam trabalhando caiu de 30,4% para 25,7% (A Pnad e a
competitividade, Valor, 5/10).
Ou seja, nas duas pontas da estrutura
etária está havendo uma redução da oferta de trabalho e, consequentemente, dos
que procuram emprego. Entre os jovens, a redução deve-se às fortes quedas da
taxa de fecundidade, que passou de 6,2 filhos por mulher, na década de 1950,
para 2,8, em 1990, e 1,9, nos dias atuais (Jorge Arbache, Transformação
demográfica e competitividade internacional, 2011). Há, ainda, uma redução que é
devida ao prolongamento dos anos em que os jovens ficam nos bancos escolares.
Entre os idosos, a melhoria dos programas sociais voltados para a transferência
de renda vem induzindo saídas crescentes do mercado de trabalho. Em suma, há uma
redução da proporção dos que procuram emprego. Isso, evidentemente, contribui
para a queda da taxa de desemprego, que, como se sabe, resulta do número de
pessoas efetivamente desocupadas dividido pelo número dos que procuram
emprego.
A taxa de desemprego poderia ter baixado por força de uma
expansão da oferta de empregos. Isso ocorreu nos anos recentes, mas a sua
magnitude não deve ser superestimada. Os dados analisados por Castelar mostram
que a taxa de ocupação (que reflete a oferta de empregos) foi de 55,9% em 2011,
ficando surpreendentemente no mesmo patamar de 2003, que foi de 55,4%. Isso
prova que a baixa na taxa de desemprego se deveu em grande parte à redução
drástica dos que procuraram emprego no período considerado.
A redução da
oferta de trabalhadores não é nada desprezível, pois em praticamente todos os
setores da economia há falta de mão de obra. Essa falta gera forte pressão nos
custos de contratação. Salários e benefícios têm subido bem acima da inflação,
pressionados também por aumentos substanciais no salário mínimo e nos pisos
estaduais. Para atrair os profissionais de que necessitam, as empresas são
levadas a ofertar condições de trabalho cada vez mais custosas, especialmente
quando precisam de profissionais qualificados. É bom lembrar que as despesas com
encargos sociais crescem com a elevação dos salários e benefícios.
Veja o
leitor como é interessante essa cadeia em que um fenômeno demográfico provoca
escassez de trabalho e elevação dos custos de contratação.
Para agravar,
ocorre que a explosão do custo do trabalho não está sendo acompanhada de uma
elevação da produtividade, o que faz disparar o custo unitário do trabalho. As
consequências desse descasamento estão estampadas nos jornais diários: a
inflação está além da meta e os investimentos, aquém do necessário, pois as
empresas que não podem repassar a elevação do custo do trabalho para preços
reduzem as margens e adiam os projetos de expansão.
Esse quadro preocupa.
Nenhuma economia consegue gerar empregos e manter o custo unitário do trabalho
equilibrado se não investir e aumentar a produtividade. Os dados referentes a
2012 justificam a preocupação. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados, a abertura de vagas vem desacelerando, mantendo-se em bom nível
só no setor da construção pesada, que responde pelos grandes projetos de
infraestrutura. Oxalá as recentes medidas do governo contribuam para mudar esse
cenário. O pior dos mundos seria passar da situação de falta de trabalhadores
para a de falta de em
população está jogando luzes no túnel até então dominado pelas trevas. Em artigo
recente, Armando Castelar explica que, de 2003 a 2011, a proporção dos jovens
que procuravam emprego caiu de 61,4% para 59,9%. No mesmo período, a proporção
de idosos que estavam trabalhando caiu de 30,4% para 25,7% (A Pnad e a
competitividade, Valor, 5/10).
etária está havendo uma redução da oferta de trabalho e, consequentemente, dos
que procuram emprego. Entre os jovens, a redução deve-se às fortes quedas da
taxa de fecundidade, que passou de 6,2 filhos por mulher, na década de 1950,
para 2,8, em 1990, e 1,9, nos dias atuais (Jorge Arbache, Transformação
demográfica e competitividade internacional, 2011). Há, ainda, uma redução que é
devida ao prolongamento dos anos em que os jovens ficam nos bancos escolares.
Entre os idosos, a melhoria dos programas sociais voltados para a transferência
de renda vem induzindo saídas crescentes do mercado de trabalho. Em suma, há uma
redução da proporção dos que procuram emprego. Isso, evidentemente, contribui
para a queda da taxa de desemprego, que, como se sabe, resulta do número de
pessoas efetivamente desocupadas dividido pelo número dos que procuram
emprego.
expansão da oferta de empregos. Isso ocorreu nos anos recentes, mas a sua
magnitude não deve ser superestimada. Os dados analisados por Castelar mostram
que a taxa de ocupação (que reflete a oferta de empregos) foi de 55,9% em 2011,
ficando surpreendentemente no mesmo patamar de 2003, que foi de 55,4%. Isso
prova que a baixa na taxa de desemprego se deveu em grande parte à redução
drástica dos que procuraram emprego no período considerado.
oferta de trabalhadores não é nada desprezível, pois em praticamente todos os
setores da economia há falta de mão de obra. Essa falta gera forte pressão nos
custos de contratação. Salários e benefícios têm subido bem acima da inflação,
pressionados também por aumentos substanciais no salário mínimo e nos pisos
estaduais. Para atrair os profissionais de que necessitam, as empresas são
levadas a ofertar condições de trabalho cada vez mais custosas, especialmente
quando precisam de profissionais qualificados. É bom lembrar que as despesas com
encargos sociais crescem com a elevação dos salários e benefícios.
leitor como é interessante essa cadeia em que um fenômeno demográfico provoca
escassez de trabalho e elevação dos custos de contratação.
ocorre que a explosão do custo do trabalho não está sendo acompanhada de uma
elevação da produtividade, o que faz disparar o custo unitário do trabalho. As
consequências desse descasamento estão estampadas nos jornais diários: a
inflação está além da meta e os investimentos, aquém do necessário, pois as
empresas que não podem repassar a elevação do custo do trabalho para preços
reduzem as margens e adiam os projetos de expansão.
Nenhuma economia consegue gerar empregos e manter o custo unitário do trabalho
equilibrado se não investir e aumentar a produtividade. Os dados referentes a
2012 justificam a preocupação. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados, a abertura de vagas vem desacelerando, mantendo-se em bom nível
só no setor da construção pesada, que responde pelos grandes projetos de
infraestrutura. Oxalá as recentes medidas do governo contribuam para mudar esse
cenário. O pior dos mundos seria passar da situação de falta de trabalhadores
para a de falta de em