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19 out 2012

Demografia, emprego e desemprego

José
Pastore
 
Os analistas do mercado de trabalho passaram um bom tempo sem
prestar a devida atenção à demografia, até se depararem com a intrigante
pergunta: Como pode o Brasil ter só 5% de desempregados, se o Produto Interno
Bruto (PIB) cresce apenas 1,5% ao ano?

 O estudo minucioso da dinâmica da
população está jogando luzes no túnel até então dominado pelas trevas. Em artigo
recente, Armando Castelar explica que, de 2003 a 2011, a proporção dos jovens
que procuravam emprego caiu de 61,4% para 59,9%. No mesmo período, a proporção
de idosos que estavam trabalhando caiu de 30,4% para 25,7% (A Pnad e a
competitividade, Valor, 5/10).

Ou seja, nas duas pontas da estrutura
etária está havendo uma redução da oferta de trabalho e, consequentemente, dos
que procuram emprego. Entre os jovens, a redução deve-se às fortes quedas da
taxa de fecundidade, que passou de 6,2 filhos por mulher, na década de 1950,
para 2,8, em 1990, e 1,9, nos dias atuais (Jorge Arbache, Transformação
demográfica e competitividade internacional, 2011). Há, ainda, uma redução que é
devida ao prolongamento dos anos em que os jovens ficam nos bancos escolares.
Entre os idosos, a melhoria dos programas sociais voltados para a transferência
de renda vem induzindo saídas crescentes do mercado de trabalho. Em suma, há uma
redução da proporção dos que procuram emprego. Isso, evidentemente, contribui
para a queda da taxa de desemprego, que, como se sabe, resulta do número de
pessoas efetivamente desocupadas dividido pelo número dos que procuram
emprego.

A taxa de desemprego poderia ter baixado por força de uma
expansão da oferta de empregos. Isso ocorreu nos anos recentes, mas a sua
magnitude não deve ser superestimada. Os dados analisados por Castelar mostram
que a taxa de ocupação (que reflete a oferta de empregos) foi de 55,9% em 2011,
ficando surpreendentemente no mesmo patamar de 2003, que foi de 55,4%. Isso
prova que a baixa na taxa de desemprego se deveu em grande parte à redução
drástica dos que procuraram emprego no período considerado.

A redução da
oferta de trabalhadores não é nada desprezível, pois em praticamente todos os
setores da economia há falta de mão de obra. Essa falta gera forte pressão nos
custos de contratação. Salários e benefícios têm subido bem acima da inflação,
pressionados também por aumentos substanciais no salário mínimo e nos pisos
estaduais. Para atrair os profissionais de que necessitam, as empresas são
levadas a ofertar condições de trabalho cada vez mais custosas, especialmente
quando precisam de profissionais qualificados. É bom lembrar que as despesas com
encargos sociais crescem com a elevação dos salários e benefícios.

Veja o
leitor como é interessante essa cadeia em que um fenômeno demográfico provoca
escassez de trabalho e elevação dos custos de contratação.

Para agravar,
ocorre que a explosão do custo do trabalho não está sendo acompanhada de uma
elevação da produtividade, o que faz disparar o custo unitário do trabalho. As
consequências desse descasamento estão estampadas nos jornais diários: a
inflação está além da meta e os investimentos, aquém do necessário, pois as
empresas que não podem repassar a elevação do custo do trabalho para preços
reduzem as margens e adiam os projetos de expansão.

Esse quadro preocupa.
Nenhuma economia consegue gerar empregos e manter o custo unitário do trabalho
equilibrado se não investir e aumentar a produtividade. Os dados referentes a
2012 justificam a preocupação. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados, a abertura de vagas vem desacelerando, mantendo-se em bom nível
só no setor da construção pesada, que responde pelos grandes projetos de
infraestrutura. Oxalá as recentes medidas do governo contribuam para mudar esse
cenário. O pior dos mundos seria passar da situação de falta de trabalhadores
para a de falta de em