Início de década, hora de se olhar para trás e para frente, fazer balanços e traçar cenários. As projeções de classes econômicas aqui apresentadas levam em consideração avanços no nível e na distribuição de renda. Projetamos até 2014 o crescimento de cada unidade da federação de forma diferenciada, assim como as particularidades da evolução da desigualdade dentro de cada Estado.
As pirâmides sintetizam para o conjunto do país aspectos passados e prospectivos da transição do povo brasileiro entre classes. A altura se refere ao tamanho da população. Se o Brasil continuar numa trajetória de crescimento com redução de desigualdade teremos em 2014 cerca de 118 milhões de pessoas na classe C (renda familiar mensal acima de R$ 1.750 – ajustada pela POF) e 29,1 milhões nas classes AB (acima de R$ 7.500) em comparação com 65,8 milhões e 13,3 milhões, respectivamente, em 2003.
Isto significa que no período 2004-14, 52,1 milhões de pessoas entrarão na classe C e outros 15,7 milhões nas classes AB. Perfazendo um total de 67,8 milhões, mais do que a população do Reino Unido de novos integrantes de classes ABC.
Se abrirmos estas mudanças dos estratos econômicos no tempo com relação à classe C vemos a adição de 40 milhões de pessoas entre 2004 e 2011, águas passadas, e outros 12,5 milhões projetados entre 2012 e 2014. Cenário notável, dada a contração dos mercados consumidores nos países desenvolvidos em função da crise internacional em curso.
Nas classes AB a adição populacional foi de 9,2 milhões entre 2003 e 2011 e será 7,7 milhões entre 2011 e 2014. A população da classe AB crescerá proporcionalmente nos próximos três anos mais do que a classe C: 29,3% e 11,9%, respectivamente. Falaremos da nova classe AB como falamos da nova classe C nos últimos anos.
De 2004 a 2014, apesar do crescimento populacional, a população absoluta das classes DE diminuirá em 47,3 milhões, caindo a quase metade dos contingentes iniciais. Incidentalmente, o Brasil tinha em 2003, cerca de 50 milhões de pobres (classe E) e 96,2 milhões nas classes DE.
Avaliando nossos cenários com a sabedoria após os fatos até janeiro 2012 obtida a partir da PME, vemos que a projeção original superestimava o crescimento de renda e subestimava a queda da desigualdade. Estes dois erros da média e da dispersão da renda se compensaram, de forma que a classe C prevista convergiu para observada.
Voltando à tradicional metáfora das décadas, talvez devêssemos deixar de lado o calendário gregoriano, já que os pontos de inflexão substantivos das inovações centrais de cada uma das últimas décadas não foram no início de cada uma delas, mas coincidentemente em anos terminados em quatro: 1964 (década do milagre econômico com alta da desigualdade e ditadura militar), 1974 (início da distensão política e des