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11 out 2013

Aumento nas vendas de importados ameaça indústria brasileira

Aumento nas vendas de importados ameaça indústria brasileira

Maiores custos da produção chinesa e políticas econômicas podem reverter o quadro

 

Pamela Mascarenhas

Indústria de confecção está entre as que registram maiores quedas, mas é uma das que mais empregam no país

Indústria de confecção está entre as que registram maiores quedas, mas é uma das que mais empregam no país

A política governamental aplicada nos últimos anos fez milhares de brasileiros saírem da pobreza e aquecerem o mercado. O problema é que os maiores beneficiados deste movimento têm sido os produtos estrangeiros, que conquistam espaço cada vez maior nas vendas. Enquanto isso, a produção industrial no Brasil tem reduções preocupantes. A lista de setores atingidos é extensa. Empresários da indústria têxtil e de confecção, por exemplo, reclamam do perigo que corre uma das cadeias que mais emprega pessoas no Brasil inteiro. Economistas acreditam que, se medidas forem tomadas com urgência, como políticas econômicas e investimento em inovação, o quadro pode ser revertido. Aliado a isso está o aumento do custo de mão de obra na China, que pode reduzir a competitividade dos produtos chineses.

Indústria de confecção está entre as que registram maiores quedas, mas é uma das que mais empregam no paísIndústria de confecção está entre as que registram maiores quedas, mas é uma das que mais empregam no paísUm bem manufaturado nacional da indústria de transformação é, em média, 34,2% mais caro que o similar importado dos principais parceiroscomerciais. Em relação à China, o valor sobe para 34,7% de diferença, já contando com as alíquotas de importação vigentes. São diversos os fatores que prejudicam a concorrência do produto brasileiro em relação aos estrangeiros. Entre eles, especialistas destacam o Custo Brasil – nível de competitividade da indústria brasileira.

Em 2011, o governo lançou o Plano Brasil Maior, que tem entre seus objetivos incrementar a competitividade da indústria. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o plano ajudou a solucionar alguns problemas, mas ainda falta mais para frear a queda na produção e a maior atratividade dos importados. Questões que, de acordo com ele, estão em negociação entre governo e empresariado, e podem mostrar resultados satisfatórios dentro de dois anos.

O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário Feminino e Infanto-Juvenil de São Paulo e Região (Sindivest), Ronald Masijah, é um dos que temem o possível desaparecimento da indústria têxtil e de confecção. A indústria têxtil vem caindo de 2% a 4% e as importações já respondem por 20% do mercado de roupas no Brasil. Para Masijah, além de maiores incentivos, é preciso uma conscientização dos brasileiros, que precisariam dar maior valor à indústria nacional e, assim, contribuir para o desenvolvimento do país.

Se nada for feito, dou 10 anos para todo mundo virar importador“Se nada for feito urgente, dou 10 anos para todo mundo virar importador. Porque as empresas não morrem, elas vão continuar trabalhando, só que com materiais lá de fora. Os empregos serão perdidos. O setor de confecção é o segundo maior gerador de empregos no país. Somos o principal gerador de empregos de mão de obra feminina, isso vai ser perdido de forma muito perigosa. A curto prazo, para o consumidor brasileiro, escolher o produto importado não faz diferença. Mas, a médio e longo prazo, isso significa colocar milhares de pessoas nas ruas, voltaremos a sofrer com desemprego no país”, comentou.

Masijah pede que todas as empresas da área tenham facilidades para produzir, não apenas as micro e pequenas empresas, que já foram beneficiadas com o Simples Nacional. Uma das alternativas seria o Regime Tributário Competitivo para a Confecção (RTCC), projeto apresentado pela Abit ao governo, e que está em fase de análise. O objetivo da medida é desonerar, simplificar e desburocratizar a carga tributária que incide sobre o setor. Segundo a Abit, ela aumentaria em 69% a produção física e geraria cerca de 300 mil novas vagas no setor, até 2025.

“Se você for ao aeroporto vai ver uma quantidade assustadora de ‘sacoleiros’ vindo de Miami. A presença deles no mercado já é muito significativa e não contribui em nada com o governo, eles no máximo pagam excesso de bagagem à companhia aérea. Nós temos equipamentos modernos, mão de obra qualificada. Antigamente, a empresa nacional era copiadora, hoje, o mundo inteiro vem para cá ver o que estamos fazendo. Não falta inovação, falta uma carga tributária menor”, aponta Masijah.

Em 2011, enquanto a indústria geral cresceu 0,3%, a têxtil teve queda de 14,9%, a maior da indústria de transformação (IT) naquele ano, depois de crescer 4% no anterior e cair mais 4,2% no ano passado. Em 2012, a maior queda na IT foi experimentada pelos setores de máquinas para escritório e equipamentos e veículos automotores (13,5%), que, no entanto, tiveram crescimento significativo dois anos antes, de 13,2% e 24,2%, respectivamente. A exceção ficou a cargo do setor de material eletrônico e equipamentos e aparelhos de comunicação, que caiu 13,5% em 2012, sem crescimentos significativos nos anos anteriores. De janeiro a julho deste ano, todavia, já registra crescimento, ao contrário da indústria têxtil, de vestuário e acessórios e de calçados.

O maquinário da indústria têxtil está muito defasado. Ao mesmo tempo, o custo da mão de obra aumentouO diretor do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha, acredita que, se as coisas continuarem como estão, o quadro pode se agravar ainda mais, com perspectivas pessimistas para a indústria geral. Ele destaca a situação atual do setor têxtil: “O maquinário dessa indústria está muito defasado e, ao mesmo tempo, o custo da mão de obra aumentou, o que retira a competitividade do setor”.

Frederico lembra que o setor têxtil sofreu um movimento em direção ao Nordeste, em busca de menores salários, e também um processo de trabalho em cooperativas, para ter custos indiretos mais baixos. Em 2003, contudo, este movimento começou a ser coibido, fazendo com que as empresas tivessem que arcar com mais custos indiretos na produção.  A indústria brasileira, então, começou a migrar para vizinhos como o Paraguai. “Quanto à indústria, sou muito pessimista, Se tudo continuar do jeito que está, vai reduzir ainda mais o tamanho”.

Competitividade de produtos chineses pode reduzir com aumento de salários no país

Empresários reclamam da concorrência desleal com os produtos da China, onde a maioria das empresas têm a presença do governo, a mão de obra é extremamente barata e não existe uma preocupação com questões ambientais, por exemplo. Além disso, reforçam, no Brasil são altos os custos com energia, infraestrutura logística e capital de giro.

A grande competitividade do produto chinês no Brasil, no entanto, pode ser revertido com o constante aumento do custo de mão de obra no país asiático, como aponta o economista Heron do Carmo. “A China está mudando. Com a tendência de aumento da mão de obra lá, melhoram as condições relativas de competitividade da produção brasileira. O salário chinês está aumentado significativamente e pode favorecer o produto brasileiro”, disse.

Para Heron, junto à provável perda de competitividade chinesa e ao movimento de desvalorização cambial, as ações do governo para solucionar os problemas da indústria são positivos e devem trazer resultados. Ele destaca produtos brasileiros que já fazem sucesso no exterior, como as sandálias Havaianas, para reforçar que também é importante que as empresas invistam em inovação e design, para competir com o mercado internacional.

A queda de produção não se coaduna com a capacidade do setor“O desempenho da indústria depende de um ambiente macroeconômico, da logística. O Brasil é um país em construção, com grandes oportunidades, mas com grandes desafios. Não temos nada contra a integração com o mundo, pelo contrário. Mas nós estamos perdendo espaço de mercado para outros países, como a China, que não tem marco regulatório, comprometimento com a questão trabalhista. A queda de produção não se coaduna com a capacidade do setor de gerar emprego e valor”, avalia o diretor da ABIT, Fernando Pimentel.

José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp (Decomtec), atribui ao custo Brasil e à antiga valorização do real as perdas na indústria de transformação. “É muito caro produzir no Brasil, o produto estrangeiro chega muito mais barato. A principais razões são o capital de giro, os juros altos, energia cara, que já diminuiu um pouco. A carga tributária brasileira é enorme e exige um custo extra à empresa, como para contratação de pessoas só para lidar com esses impostos e com o emaranhado de leis e portarias soltas diariamente. Quem está ganhando com aumento de renda no Brasil é o produto importado”.