Com o término da temporada de lançamentos para o verão 2012/13 ficam no ar mais perguntas que respostas: em um mundo regido pela massificação do gosto, por que apostar na criação? Ainda vale a pena investir em desfiles grandiosos? Afinal, para que serve uma semana de moda: para vender roupas ou os produtos dos patrocinadores?
A julgar pelo que foi apresentado durante a São Paulo Fashion Week, que terminou sábado, na Bienal, a resposta para a primeira questão é depende. Boa parte das marcas que, no passado, impuseram o seu estilo sem medo das consequências está se revendo. É o caso do estilista João Pimenta, uma das ótimas surpresas da semana. E também das marcas Animale, Têca, Neon, Osklen, Fernanda Yamamoto e até do estreante da temporada, o estilista Vitorino Campos. Nenhum deles se arriscou em devaneios – do tipo que arranca suspiros nos desfiles, mas encalha nas prateleiras. Cada um, dentro da sua expertise, conseguiu equilibrar seus desejos pessoais com o que, de fato, o mercado consegue absorver. É hora de pensar em vendas sim, mais do que nunca, sobretudo nesse momento de “invasão” de marcas de fast fashion que promete ocorrer entre o final deste ano e começo do próximo. E isso implica em repensar o uso de matérias-primas, os métodos de produção e, em última instância, nos preços que chegam ao consumidor.
Os tempos estão bicudos para a moda brasileira. Não foi à toa que essa edição da SPFW, foi marcada pela manifestação de profissionais da moda, que ao final do desfile da Cavalera surgiram vestindo camisetas com a frase “Presidenta Dilma, precisamos falar com você, a moda agradece”. Participaram da mobilização estilistas como Lino Villaventura, Alexandre Herchcovitch e Reinaldo Lourenço, além do diretor do SPFW, Paulo Borges. O grupo promete redigir um manifesto sobre o futuro da moda brasileira a partir de uma reunião marcada para o dia 26, em São Paulo. O grupo cobra um planejamento para o setor, que envolva qualificação de mão de obra e políticas fiscais que estimulem a produção. Vale lembrar que, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), os impostos correspondem a 40% do valor de uma peça de roupa, no Brasil. Além disso, ano após ano, cresce o volume de artigos importados que entram no mercado, entre tecidos e roupas prontas.
Além de discussões sobre as velhas questões do setor, houve espaço para tratar do assunto do momento – a sustentabilidade. Durante a semana, a Osklen apresentou o projeto Traces, que rastreou a pegada de carbono e os impactos sócios ambientais dos tecidos sustentáveis. A conclusão da análise, feita pelo Instituto-E e o Ministério do Meio Ambiente da Itália, em parceria com o Fórum das Américas e o Senai-Cetiqt, foi de que os impactos ambientais são mínimos se comparados com os da indústria têxtil convencional.
Questões mais prosaicas, no entanto, também marcaram presença nessa edição do evento. Entre elas, a viabilidade da realização de desfiles grandiosos – como os que ocorrem na SPFW. A 33ª edição do evento sofreu com a ausência de marcas tradicionais do setor, como Maria Bonita, Cori e Huis Clos. A justificativa oficial para o fato foi a antecipação da data do evento, que inviabilizou a finalização das coleções. Mas, nos bastidores, comenta-se que a dificuldade generalizada de se conseguir patrocínio para os desfiles estaria desanimando mesmo quem sempre acreditou no poder das passarelas. Os desfiles estariam contando como custo, não mais como investimento. Por outro lado, o evento confirma-se como uma boa vitrine de