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25 jun 2015

150 confecções fecharam as portas em São Paulo neste ano

Ronald Masijah (na foto), dono da Darling, fundada há 66 anos, diz que se economia continuar como está, o setor não dura mais de oito anos

Ele chegou a fabricar 500 mil peças de lingerie por mês, entre 2008 e 2010, com um time de 400 costureiras. Hoje, produz 250 mil peças mensais e emprega 200 costureiras.

“Estou apavorado. O setor de confecção não dura mais do que oito anos no Brasil”, desabafa Ronald Masijah, sócio-diretor da Darling, uma das mais tradicionais marcas de lingerie do país.

Fundada pelo pai, Iso Masijah, e pelo tio, Moises Castro Nahum, em 1949, a Darling, segundo afirma, nunca havia passado nem perto de um período de retração semelhante ao atual.

“É algo absurdo o que estamos vivendo. Acabamos de passar pelo Dia dos Namorados e o ritmo de vendas se manteve como se o evento não tivesse existido”, afirma. Nos meses de maio e junho, religiosamente, as vendas de lingerie costumavam aumentar 20%.

Fundada por Izidoro Knobloch, a Nutrisport, fundada há 64 anos para produzir casacos de pele, é outra empresa que está bem longe de fornecer, como no passado, 250 mil peças para cada estação do ano.

“A produção atual é 60 mil peças, 20% inferior à do ano passado e, ainda assim, não está fácil vender”, afirma Sidney Knobloch, sócio-diretor da confecção, que comercializa as marcas Nutria e Lilla Ka.

Para Knobloch, as confecções brasileiras não suportam mais dois a três anos. Os preços dos tecidos são dolarizados, uma vez que boa parte deles é importada, considerando que a indústria têxtil nacional também sucumbiu. “Fora isso, os custos dispararam”.

De janeiro a abril passado, a alta mensal do dólar acumulou 16,1%, o preço da energia elétrica subiu 38,2%; o dos combustíveis, 8,4% e o da água tratada, 2,3%, segundo cálculo da GO Associados.

Os juros também estão mais elevados. A taxa básica de juros da economia que, em janeiro, era de 12,25% ao ano, hoje é de 13,25% ao ano. E todos esses aumentos acontecem em um ambiente em que o consumidor está mais endividado e sem confiança na economia e no emprego.

“A situação vai piorar, nem começou a recessão. O governo vai cortar investimentos, os impostos vão subir e a desoneração sobre a folha de pagamento, que havia até agora, está sendo revista”, afirma.

Muitas confecções já entregaram literalmente os pontos. Levantamento do Sindivestuário, sindicato que reúne os fabricantes de roupas femininas, masculinas e infanto-juvenis, revela que, nos quatro primeiros meses deste ano, 500 confecções fecharam as portas no país, das quais 150 no Estado de São Paulo.

INTERIOR

Metade das confecções paulistas que fecharam está concentrada na cidade de São Paulo. A outra metade está instalada, principalmente, na região do ABC, Campinas, Nova Odessa, Sumaré e Americana. Muitas famílias dessas regiões, segundo o Sindivestuário, estão sofrendo o impacto do desemprego.

O sindicato também colheu depoimentos de donos de confecções que enfrentam dificuldades para manter as portas abertas.

Veja o desabafo de um empresário de médio porte do interior de São Paulo, que prefere o anonimato:

“Nunca vi uma situação como essa. Tinha 200 funcionários e dispensei cerca de 50 pessoas, nos últimos três anos. Neste ano, já demiti mais 50 pessoas. Agora tenho 98 empregados, mas está praticamente impossível mantê-los”.

O depoimento de um dono de confecção de pequeno porte na capital, que também não quer ser identificado, chamou a atenção da diretoria do Sindivestuário.

“Até o final do ano, vou passar o ponto e virar importador. Vou vender diretamente para os clientes do Bom Retiro. Vou ganhar mais, não terei mais custos com funcionários e vou pagar menos impostos.”

CONFECÇÕES EM SÃO PAULO MOVIMENTAM R$ 14 BILHÕES POR ANO

Operam no país cerca de 30 mil confecções, das quais 35% no Estado de São Paulo que movimentam R$ 14 bilhões anuais empregam cerca de 250 mil pessoas.

O Brasil, segundo o Sindivestuário, já chegou a ter 35 mil confecções há dez anos e a empregar um milhão de pessoas.  O setor é formado, principalmente, por micro e pequenas empresas, com 10 a 15 funcionários, em média. Uma parte menor é formada por médias empresas, como a Darling e a Nutrisport.

Para aproveitar do regime do Simples, que possibilita uma incidência menor de impostos, as confecções não crescem muito. Para não ultrapassar o faturamento de R$ 3,6 milhões por ano, eles acabam criando outras empresas, com outros CNPJs.

“Um setor de mão-de-obra intensiva, que dá emprego a milhares de famílias, está desaparecendo porque o governo pouco se importa com ele. Os empresários estão descapitalizados”, afirma Ronald Misajah, presidente do Sindivestuário.

A Nutrisport, por exemplo, já teve de recorrer as bancos para obter capital de giro. “Sabemos que isso é suicídio para uma empresa no Brasil, mas não teve jeito”, diz Knobloch.

As taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras, no caso da Nutrisport, diz Knobloch, estão ao redor de 2% ao mês. “E isso, quando as instituições decidem emprestar. O crédito está bem restrito”, afirma.

Ele diz que ainda não pensou em fechar a empresa. “Mas se continuar como está, até pode ser.” A Nutrisport trabalha no atacado e no varejo, com lojas em shoppings, na Alameda Lorena e na Rua José Paulino. Mesmo nas regiões de maior poder aquisitivo, diz ele, o consumo despencou.

 

Fonte: www.dcomercio.com.br