O bairro da Vila Madalena, velho reduto das artes e da boêmia paulistana, recebe novos criadores de moda que trazem à cena uma proposta mais autoral. Eles chegam com seus pequenos ateliês e butiques e vão se instalando pelas ruas mais conhecidas da região, como Harmonia, Girassol, Aspicuelta, Wisard e Rodésia, entre outras.
O bairro assume, assim, um novo perfil – mas sem perder a aura de originalidade que sempre o caracterizou. Em termos de oferta de roupas e acessórios, enquanto os Jardins recebiam inúmeras grifes internacionais a partir de meados dos anos 90, a Vila Madalena manteve-se voltada à produção artesanal. Mas há mudanças no posicionamento.
Entre os novos estilistas, estão nomes como Flávia Aranha, formada em 2005 pela Faculdades Santa Marcelina. Engajada na causa da sustentabilidade, a designer trabalha exclusivamente com fibras naturais – algodão, linho, lã -, tingidas com corantes naturais, mantendo uma produção que gira em torno de 2500 peças por temporada.
“Essa proposta me acompanha desde a faculdade”, diz a criadora, que foi trabalhar na Ellus logo que se formou. “Ali aprendi muito sobre o funcionamento do mercado”, conta. Em suas primeiras férias ainda na empresa ela decidiu viajar para o Nordeste, alugou um carro e percorreu o sertão pernambucano em busca de comunidades com esse foco. “Foram 30 dias de pesquisa e muito pó na estrada.”
Era o levantamento necessário para entrar em contato e entender o mecanismo da produção.
Em 2007, pronta para lançar a marca que leva seu nome, abriu a butique que, no início, ficava na rua Aspicuelta e há dois meses está na Harmonia. No mesmo endereço funciona o ateliê para criações exclusivas. “Pode ser casual, roupa de festa ou moda noiva, a proposta será sempre sustentável”, afirma ela.
Na base da cartela de cores estão o branco, o azul-índigo, o verde, marrom, o cinza e variações do rosa e do vermelho, conseguidos a partir do uso de matérias-primas como: pau-brasil, nogueira, anileira, açafrão, etc. “É pura alquimia”, afirma.
Os criadores têm motivos para se instalar na Vila Madalena: apesar do boom imobiliário, os aluguéis ainda são atrativos, a localização é boa e o bairro conserva uma imagem “cult”. “A Vila tem o seu ‘momento’ artesanal e mais local, mas tem também a face ligada ao design contemporâneo”, diz Flávia Aranha. Ela está otimista. A abertura do novo ponto de venda significou a comercialização do dobro de peças em relação ao inverno 2010. “Para 2012, trabalhamos para chegar a um aumento de 40%.”
Com formação em artes plásticas e cinema, Adriana Franca é de Belo Horizonte, abriu a loja na Vila no início do ano e já pode presenciar vários momentos do bairro: “O movimento oscila, com picos de vendas no Natal e outras datas marcantes do calendário”, afirma, salientando que “o público, aos poucos, percebe que o bairro tem moda para oferecer”. A estilista diz que sempre confeccionou suas roupas e, por serem diferentes, recebia em casa encomenda das amigas.
Segundo Adriana, suas coleções nunca partem de um tema. “A partir de um modelo, damos origem a toda a linha”, explica. Adriana mantém uma produção limitada de 650 peças por temporada. Em sua linha há vestidos-quimonos e versões de alfaiataria, saias, calças e camisas, tudo feito num corte confortável, com numeração do 36 ao 46.
Satiko Nakata e Isabel Mascaro, mãe e filha, arquitetas, formam a dupla criativa da Satiko + Isabel de moda contemporânea, com padronagem exclusiva feita em estampa digital e jacquard. “Apostamos