Segmento de confecções carece de mão de obra, diz estudo

O segmento de confecções é o elo mais fraco da cadeia têxtil, tem baixa produtividade e já carece de mão de obra. É o que mostra um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que aponta essa situação como um dos principais desafios atuais das grandes varejistas do setor.

Segundo o levantamento, realizado a pedido da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) no Estado de São Paulo, o segmento é muito pulverizado e caracterizado pelo alto índice de informalidade. ?São muitas pequenas e médias empresas e não há barreiras de entrada em confecções. O segmento é mão de obra intensivo, de baixa produtividade?, afirma a pesquisadora da Fipe, Fernanda Gabriela Borger.


Um dos fatores que colaboram para a pulverização do setor é a legislação tributária, que impõe limites de faturamento para o enquadramento no regime do Simples e no Lucro Presumido. Para manter os benefícios, as confecções muitas vezes optam por não crescer.


Nessas pequenas empresas, o modelo de negócios e a mão de obra de baixa qualificação são fatores que limitam a produtividade. Para a pesquisadora, o modelo de terceirização da costura, criado pelo segmento com a abertura da economia na década de 90, já não é mais adequado à alta competição e redução dos custos no setor. ?Esse modelo está se esgotando e as empresas não estão conseguindo alcançar boa produtividade?, explica.


O estudo mostra ainda que, em São Paulo, o custo dos salários nas confecções para o empregador formal chega a ser 133% superior ao custo do salário na situação irregular, fator que incentiva a informalidade no segmento. Além disso, a mão de obra está envelhecendo. Segundo o levantamento, a média de idade das trabalhadoras do segmento era de 40 anos em 2002, e em 2008 essa média passou para quase 44 anos. ?O segmento não é atrativo aos jovens, não há salários altos e tem poucas perspectivas nas pequenas empresas?, explica Borger.


A fraqueza da área de confecções tem ficado no centro das atenções do varejo têxtil, dependente do fornecimento dessas empresas. A ponta do varejo vivencia um momento em que a agilidade do fornecimento das peças é cada vez mais importante no chamado ?fast fashion?, em que as coleções chegam mais rapidamente ao mercado.


Como grande parte das operações de importações ainda é lenta, as varejistas precisam de um segmento de confecções mais estruturado no Brasil. Na tentativa de fortalecer essa área, algumas grandes redes se envolveram em um programa ? lançado pela Abvtex ? para qualificar seus fornecedores. Para conseguir a qualificação, a confecção tem que provar, entre outras coisas, que é formal e tem boas práticas trabalhistas.


As adeptas conseguiram qualificar mais de 34% de sua cadeia de fornecedores em São Paulo, no primeiro semestre do ano. Elas se comprometem a qualificar todas as confecções com as quais trabalham até o fim de 2012. ?Foi um movimento que surgiu do próprio varejo. As empresas perceberam que é mais efetivo fazer esse controle coletivamente?, afirma o presidente da Riachuelo, do grupo Guararapes, Flávio Rocha.


A empresa tem suas operações integradas, desde a indústria. Mais da metade dos R$ 3,3 bilhões a serem faturados pela companhia neste ano (segundo projeções do mercado) virão de produtos fabricados pelo próprio grupo. ?A performance dos nossos indicadores mostra que ser integrado e, portanto, depender menos dos fornecedores, é mais eficiente?, explica o executivo.


(Vanessa Dezem | Valor)


http://www.valor.com.br/empresas/1068544/segmento-de-confeccoes-carece-de-mao-de-obra-diz-estudo<

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