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24 out 2012

O que aguarda o luxo pós ressaca chinesa?

Um em cada quatro consumidores de produtos de luxo no mundo hoje é chinês. Então, quando esse ou essa asiática força seu salto alto no freio do conversível toda a indústria fica de cabelo arrepiado. Mas não é só o fato de as vendas do setor na China crescerem 18% este ano frente os 30% e 35% de 2011 e 2010 que preocupa. Afinal, uma hora o frenesi da logomania iria ser apaziguado e o mercado amadureceria.

A indústria de bens de consumo de luxo está sendo forçada a passar por uma transformação numa velocidade muito maior do que esperava. Com um faturamento previsto de ? 212 bilhões, 10% acima de 2011, o momento é de se reinventar. O estudo anual feito pela consultoria Bain & Co em parceria com a Altagamma, associação que reúne as marcas top italianas, divulgado na última semana, mostra que as vendas de luxo pelo e-commerce cresceram 25% no último ano e 30% nos outlets. Juntos os dois canais já representam tudo o que os japoneses gastaram em itens de luxo em 2012.

O conceito de acessibilidade, quem diria, tem predominado sobre a premissa essencial do luxo, a exclusividade. Os jovens exigem poder comprar no expediente 24 por 7 (24 horas, 7 dias por semana), qualquer dia a qualquer hora. Mas querem ser entretidos, seduzidos. Como fazer isso contracenando com uma tela, celular e redes sociais? Até 2017, diz o estudo, ou as marcas tiram a poeira das cortinas de veludo ou perderão a conexão como essa geração. A adaptação ao que está sendo chamado de “luxury 2.0” é tão ou mais complexa do que os chineses saindo da zona do deslumbramento.

Ao mesmo tempo, quem está entrando nas lojas e saindo das lojas com sacolinhas? Os turistas, que já são 40% das despesas globais de luxo. Isso significa que mais do que nunca as marcas “precisam oferecer uma experiência, mais do que um produto”.

Soma-se a esse cenário a maior participação dos homens que ocupam uma fatia cada vez maior das compras. Já são 41% contra 35% de 1995. Esse despertar pela qualidade do público masculino impactou os percentuais das categorias de produtos. Pela primeira vez itens de couro e sapatos superaram vestuário, representando 27% do faturamento do setor para 2012. Esse resultado mostra ainda que as mulheres de alto poder aquisitivo estão trocando o figurino de luxo por peças premium, mas com informação de moda.

O Brasil está inserido nesse contexto, ou seja, não está imune ao novo desenho do luxo. A previsão da Bain é que o setor cresça aqui de 15% a 25% até 2017. À medida que novas empresas chegam, mais o país passa a fazer parte das estratégia globais. Claudia D’Arpizio, sócia da Bain & Co em Milão, e organizadora do estudo, diz que o Brasil tem particularidades que não passam despercebidas dos investidores. Uma delas é o grande potencial dos casais sem filhos, os dinks [Double Income No Kids], que entram no foco das marcas de luxo internacionais. A seguir, a entrevista exclusiva ao Valor.

Valor: A senhora poderia explicar o impacto das novas gerações no futuro da indústria do luxo?

Claudia D’Arpizio: As novas gerações já não são persuadidas apenas pela exclusividade ou logotipos. Elas esperam ter acesso a marcas de luxo 24 por 7, não importa onde estejam no mundo, e querem compartilhar seus gostos com seus amigos em redes sociais. Elas também são mais exigentes s