Enquanto o dólar mais forte beneficia exportadoras, na outra ponta, prejudica quem depende do poder de compra do consumidor, avalia Leonardo Milane, estrategista da Santander Corretora. Para ele, o setor de consumo é o que mais perde, principalmente segmentos com demanda mais vulnerável a variações de preços, como os de vestuário, calçados e eletrônicos. A alta da moeda acentua as preocupações com a inflação.
O Credit Suisse também menciona as varejistas como as empresas que mais devem sofrer o impacto negativo da alta da moeda americana. Entre as ações, os analistas Andrew T. Campbell e Daniel Federle citam Technos, Hering, Lojas Renner e Lojas Marisa, por conta do elevado percentual de custos com importados. “Alguma preocupação pode recair em Hypermarcas, já que a empresa tem grande parte da dívida em dólar, mas ela está longe de quebrar os ‘covenants’ (cláusulas contratuais)”, destacaram os analistas, em relatório.
Para Milane, da Santander Corretora, varejistas são as mais prejudicadas
Ainda na seara de companhias ligadas ao consumo que perdem com a alta do dólar, além de Hering e Marisa, a Fator Corretora cita Magazine Luiza, Guararapes e Saraiva. M. Dias Branco também tende a perder, pelo fato de a companhia não ser exportadora, mas ter insumos atrelados à variação do dólar, assim como a empresa de engenharia Mills, uma vez que importa os equipamentos do segmento “rental” (locação e venda de plataformas aéreas e manipuladores telescópicos).
Com preços fixados em reais pelo governo e com custos de importação em dólar, a Petrobras é outra que aparece na lista das companhias que podem ser prejudicadas com a apreciação da moeda americana, ao menos no curto prazo. Companhias aéreas também integram o grupo, em função da significativa exposição dos custos – sendo combustível o mais representativo – à taxa de câmbio, o que poderá comprometer as melhorias operacionais recentes.
O Bank of America Merrill Lynch (BofA) também mostrou preocupação com os efeitos da variação cambial sobre a Gol, dada a forte relação entre seus custos e dívida com a moeda americana. Cálculos do banco indicam que, se o dólar permanecer em R$ 2,13 neste ano, haverá uma redução de 110 pontos-base na estimativa de margem Ebit (lucro antes de juros e impostos) para o período, de 2,9% para 1,8%, e a última linha vai passar de um prejuízo de R$ 161 milhões para R$ 387 milhões. “Nós já temos uma média [do dólar] de R$ 2,04 no segundo trimestre, assim o impacto negativo ficaria concentrado no segundo semestre deste ano”, afirmaram os analistas Sara Delfim, Murilo Freiberger e Roberto Otero, em relatório. “Assim, o nosso preço justo passaria de US$ 8 para US$ 6,25.”
Para Gabriel Salas, do J.P. Morgan, entre as concessionárias de serviços básicos, as estatais Sabesp e Cesp são as que mais tendem a sofrer com a depreciação cambial, em função da elevada exposição de suas dívidas ao dólar e, no caso da empresa de saneamento paulista, também à moeda japonesa. Segundo o banco, as duas companhias perderiam entre 40% e 50% do valor do lucro por ação projetado para o fim do ano se a cotação do dólar for a R$ 2,50 até o fim de 2013. Já a Eletrobras foi a única empresa citada pelo banco como beneficiada pelo novo quadro cambial, por contar com exposição líquida positiva de R$ 1,5 bilhão a ativos denominados em moeda estrangeira. (Colaboraram Daniela Meibak e Tatiane Bortolozi)
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