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2 abr 2012

Barreira à importação gera escassez e afeta a indústria

A onda de frio nos últimos dias em Buenos Aires, com temperaturas de sete graus já em março, aumentou o descompasso entre o que se vê em algumas vitrines e o que se observa nas calçadas da cidade. Enquanto os pedestres passam agasalhados, os manequins ainda ostentam roupas leves, de verão. “Todas as coleções estão atrasadas”, disse uma lojista que não se identificou, na avenida Las Heras, região norte da cidade.


De modo sutil, os sinais de desabastecimento na capital argentina vão se mostrando depois da criação de uma série de barreiras comerciais pelo governo com praticamente uma novidade por semana: a desta sexta-feira foi a introdução de um controle fotográfico nos contêineres, para verificar se a carga retida condiz com as declarações de antecipação das importações, mecanismo criado em 1º de fevereiro que barrou cerca de 30% das compras do país.


Segundo o diretor de relações institucionais da Câmara de Importadores da Argentina (Cira), Miguel Ponce, das 164 mil declarações apresentadas desde 1º de fevereiro, 51 mil ainda não foram liberadas. A barreira motivou a apresentação de um documento no comitê de bens da Organização Mundial de Comércio (OMC) por parte da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros 14 países.


As barreiras afetam também a indústria nacional: no caso do vestuário, por exemplo, a confecção é feita com tecido importado, que está retido. Mas o desabastecimento é mais grave nos itens que já estavam com problemas de importação antes da criação das mais recentes barreiras. “Entre 2008 e 2011, aumentou muito a quantidade de produtos colocados no regime de licenças não automáticas. Quando a área de comércio exterior saiu do Ministério da Indústria para uma secretaria própria na órbita do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, havia uma herança de licenças vencidas e não renovadas. O resultado é que temos encomendas barradas desde agosto”, disse Ponce.


“Não temos mais como vender a linha Fischer-Price, os fabricados pela Mattel e os produtos Chicco. Ainda conseguimos oferecer os brinquedos mais baratos”, afirmou o gerente da loja de brinquedos El Mundo del Juguete no centro da cidade. As vitrines da loja são arrumadas para que os clarões na oferta não sejam percebidos. “Nem fazemos mais pedidos de liquidificadores, porque sabemos que não seremos atendidos”, comentou um vendedor da rede de varejo Falabella, na mesma região.


A falta de liquidificadores começou há anos na Argentina, dentro de uma estratégia protecionista da ministra da Indústria, Débora Giorgi, de fomentar a produção nacional. Diversos produtos foram colocados sob regime de licenças não automáticas. Em seguida, integrantes do governo procuraram deixar claro para os importadores que as mercadorias só seriam liberadas se eles exportassem. O mecanismo, totalmente informal, ficou conhecido como “uno por uno”. A mesma situação acontece com outras utilidades domésticas, como os ferros de passar roupa.


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