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28 set 2017

As portas da digitalização

Em 2017, a promessa da digitalização na indústria do vestuário continua, em grande parte, por cumprir. Porém, o seu potencial não tem parado de crescer – menos custos, prazos mais curtos e maior transparência.

Recentemente inquiridos pela consultora McKinsey & Company, mais de 80% dos executivos de sourcing das empresas de vestuário esperam que a digitalização de processos tenha um grande impacto nos próximos cinco anos.

Isso inclui a integração de processos de desenvolvimento de produtos (incluindo planeamento, design e produção) num único sistema baseado em tecnologia na nuvem.

No entanto, os 63 executivos internacionais que participaram na pesquisa – entre eles gerem aproximadamente 137 mil milhões de dólares em sourcing –, reconheceram também que a maturidade da digitalização nas suas empresas ainda é baixa ou muito baixa. Os executivos têm ainda a mesma opinião sobre os seus fornecedores.

Contudo, em 2022, a imagem pode ser muito diferente: mais de dois terços dos executivos de sourcing esperam ter digitalizado os processos, ajudando-os a alocar a capacidade de produção de forma mais eficiente e a detetar estrangulamentos.

Um número similar prevê ter portais digitais a funcionar para promover a transparência e a colaboração, quer com fornecedores, quer com colaboradores.

O impulso para digitalizar os processos de sourcing está a ser conduzido pela pressão em torno de uma mudança de foco – da oferta para a procura.

No entanto, o relatório “The apparel sourcing caravan’s next stop: Digitization” também sublinha que a indústria do vestuário tem o objetivo de se tornar rápida, transparente e flexível até 2030 e a noção de que isso requer investimentos significativos e uma mudança de mentalidade.

«O retalho de moda está a ver as margens de lucro afundarem-se, stocks excessivos e grandes mudanças no comportamento dos consumidores. As empresas de vestuário precisam de se tornar rápidas e flexíveis quando se trata de satisfazer as necessidades dos consumidores», reconhece Achim Berg, sócio da McKinsey, ao just-style.com.

O impacto comercial dessas soluções de sourcing digitalmente capacitadas pode ser impressionante. A maioria dos executivos de sourcing acredita que a digitalização ajudará a reduzir os prazos de entrega em duas a oito semanas, permitindo alcançar a agilidade necessária num mercado orientado para a procura.

A maioria está também em busca da redução de pelo menos 2,5% dos custos através da digitalização.

Aproximadamente 83% dos executivos confiam que a digitalização venha a fomentar uma tomada de decisão mais rápida, menos erros e uma maior orientação para o cliente.

Antecipar o futuro

Algumas empresas pioneiras estão já a antecipar esse futuro. Por exemplo, aquelas que implementaram design 3D e amostragem virtual encurtaram o processo de amostragem em duas semanas ou mais e, muitas vezes, conseguiram reduções de 50% na quantidade de amostras necessárias e nos custos envolvidos.

Além de reduzirem o tempo e o custo do processo de design, estão também a reduzir significativamente a pegada ambiental da produção.

A pesquisa identifica também oportunidades de digitalização em análises preditivas, design 3D e prototipagem virtual, impressão digital, planeamento automático/dinâmico e identificação por radiofrequência (RFID) na produção e na cadeia de aprovisionamento.

Entre estes, a análise preditiva mostra maior potencial de impacto do que qualquer outra alavanca de digitalização. As empresas podem aproveitar as tecnologias de Inteligência Artificial para otimizarem a previsão de tendências, a tomada de decisões nos processos criativos e melhorar a performance do design. As empresas podem recorrer à análise preditiva para analisar centenas a milhares de variáveis internas e externas que influenciam a procura, como o clima, tendências nas redes sociais, etc.

O design 3D e a prototipagem virtual encurtam em várias semanas o processo de amostragem e muitas vezes reduzem para metade o número de amostras necessárias e os custos envolvidos.

A estamparia digital, entretanto, é classificada como o aspeto mais avançado da digitalização na fabricação de vestuário e, juntamente com o corte automatizado, pode reduzir drasticamente os lead times, aumentar a flexibilidade e reduzir o desperdício.

Outra mais-valia da digitalização é a tecnologia blockchain, que tem o potencial de transformar a forma como a informação e as transações são armazenadas e partilhadas entre empresas e ecossistemas – e, portanto, aumenta radicalmente a transparência ao longo de toda a cadeia de aprovisionamento.

Robótica e automação

Em paralelo com o impacto da digitalização na indústria do vestuário, o estudo da McKinsey & Company analisa também a automação na produção.

À medida que a robótica escala em sofisticação, a automação generalizada da produção de vestuário está a tornar-se uma possibilidade real. Mais de 60% dos executivos inquiridos na pesquisa da consultora acreditam que a automação venha a ser uma das forças-motrizes das decisões de aprovisionamento até 2025.

A automação na produção será também fundamental para gerar uma nova orientação no sourcing. Mais da metade dos inquiridos espera que os destinos de aprovisionamento sejam decididos pela automação e não apenas com base nos custos. Porém, outros 30% assumem que isso pode não ser uma realidade até 2030.

«A automação lança uma nova luz sobre o aprovisionamento de proximidade, o que significa aprovisionar-se num local geograficamente mais perto», realça Saskia Hedrich, coautor do relatório.

Olhando para o futuro, quase 90% dos executivos entrevistados almejam investimentos significativamente mais elevados em tecnologia até 2030 e uma grande maioria deseja reduções significativas nos tempos de entrega e maior flexibilidade na produção e alocação de produtos.

Até 2040, a colaboração e as parcerias capacitadas digitalmente permitirão interações sem atrito entre designers, compradores e fornecedores.

 

 

Fonte: https://www.portugaltextil.com