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1 ago 2014

Moda sobre rodas.

Depois das roulottes e camiões de comida, a moda está também a chegar à rua, com a disseminação de lojas móveis que vendem vestuário e acessórios. Uma nova forma de retalho que exige menos investimento e vai de encontro aos consumidores, onde quer que eles estejam.

Por volta do meio-dia numa praça em Arlington, na Virgínia, os camiões de comida alinham-se, oferecendo sopas e sanduíches à multidão do almoço. O camião de Lia Lee também se encontra no mesmo local – mas ela vende vestidos e joalharia.

«Acabei de reabastecer-me destas blusas. Este é um top muito bonito para o trabalho – perfeito para o verão», mostra Lee, de 27 anos, a uma cliente que estava a ver a sua Street Boutique, um camião creme e preto estacionado neste subúrbio de Washington.

Os camiões com comida já conquistaram muitos clientes nas cidades americanas, mas a moda é também um negócio em crescimento na América.

O camião de Lee está organizado como uma normal loja de rua, com um interior elegante com prateleiras com vestidos e blusas, estojos com joalharia e até um pequeno provador.

«No final de 2010, éramos provavelmente cinco no país», revela Jeanine Romo, a cofundadora e vice-presidente da American Mobile Retail Association, que agrupa as lojas móveis do país. Hoje, há entre 300 e 400 em todo o país, com a maior parte delas a vender vestuário. Algumas oferecem sapatos, produtos de beleza e até acessórios para animais. «Vemos que o crescimento continua», acrescenta.

Lee há muito que sonhava ter a sua própria loja – uma que não se movesse. Mas o dinheiro era escasso. «Depois de fazer vários planos de negócios e procurar aconselhamento, percebi que não era financeiramente possível para mim fazê-lo», explica. «Isto é mais acessível e enquadra-se melhor na minha personalidade. Gosto da variedade, de ir a diferentes bairros», acrescenta.

Tal como Lee, Donna Hundley, uma fashionista com pouco mais de 30 anos, fez alguma pesquisa e concluiu que na Califórnia os camiões de moda estão a crescer rapidamente. Lançou o seu Curvy Chix Chariot vermelho e cinzento em setembro de 2013. É uma carrinha antiga dos correios que comprou por 2.200 dólares (cerca de 1.630 euros) e renovou, decorou e adaptou.

Hundley – cuja loja, como o nome indica, serve mulheres voluptuosas – compra artigos a jovens designers. «O vestuário de tamanhos grandes tende a ser sempre o mesmo – é sempre em preto, com flores, e querem sempre colocar-nos com um estampado leopardo», afirma com uma gargalhada. «Orgulho-me de me certificar que encontro peças de boa qualidade e de ter parcerias com bons designers», acrescenta.

Enquanto uma loja física pode exigir um investimento de até 500 mil dólares, pôr um camião de moda na rua custa em média 20 mil dólares, aponta Jeanine Romo. Angariar esse tipo de dinheiro é ainda mais fácil graças ao crowdfunding na Internet.

Muitas vezes, os camiões de retalho são mais uma paixão do que um trabalho lucrativo. Metade dos novos donos de camiões – a grande maioria mulheres – mantém o seu trabalho durante o dia para pagar os seus custos, como o estacionamento e licenças.

Shelley Sarmiento, que está agora nos 60 anos, seguiu um caminho pouco habitual. A coproprietária da White House Black Market – uma cadeia com mais de 100 lojas, 3.000 funcionários e vendas anuais de 180 milhões de dólares – vendeu a sua quota há uma década.

Há dois anos, Sarmiento, que dá aulas no Fashion Institute of Technology em Nova Iorque, «estava num camião de tostas de queijo» na Big Apple e pensou «porque não colocar roupa num camião?».

Desde então, o seu Little White Fashion Truck tem rolado pelas estradas. Tem agora quatro camiões em Maryland e Tennessee. As dicas dela: não acumule dívidas, faça um investimento inicial o mais pequeno possível, ofereça artigos a preços baixos e variedade, para que ninguém «consiga resistir a comprar algo».

Durante a sua pausa para almoço em Washington, Miranda Gillis não conseguiu mesmo resistir. Comprou um «maravilhoso vestido verde» na Curvy Chix Chariot. «É a primeira vez que vejo um camião de moda», explica Gillis, de 52 anos, presidente da American Federation of Government Employees. «É uma excelente ideia. É conveniente e ela tem coisas boas. É mais personalizado», acrescenta.

Elizabeth Gibbons, de 29 anos, comprou uns calções na Street Boutique. «Não há realmente muito nesta área em particular», afirma Gibbons, que considera que o camião é «realmente divertido e também muito conveniente».