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2 out 2014

Indústrias querem acelerar redução de tarifas na exportação a países andinos

Por Marta Watanabe | De São Paulo

Enquanto o acordo entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE) avança lentamente, alguns setores da indústria brasileira acompanham uma retomada de negociações para antecipar a redução a zero de tarifas de comércio prevista para acontecer até 2019, em acordos de complementação econômica já assinados entre Mercosul e diversos países andinos. A antecipação é vista como uma forma de elevar a exportação de manufaturados brasileiros para a região.

Entre os que estão defendendo a antecipação dessa redução ou a retomada do cronograma da desgravação (para zerar as tarifas de importação) estão o setor automotivo, a indústria química e a têxtil e de confecções. Entre as negociações mais citadas estão o Acordo de Complementação Econômica (ACE) nº 59, hoje com cronograma válido entre Mercosul e Colômbia e Equador, mas acordos semelhantes são mantidos pelo bloco com Peru e Bolívia. “Se não conseguimos fechar um acordo com a União Europeia, precisamos trabalhar com a agenda que é possível”, diz o diretor de desenvolvimento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi.

No setor automotivo, um dos mercados que mais chamam a atenção na negociação dos acordos é a Colômbia. Pedro Bentancourt, gerente regional de assuntos institucionais da General Motors na América do Sul, explica que, para o segmento, o acordo com os colombianos estacionou num corte de cerca de metade da tarifa de importação.

Há, porém, diz ele, uma agenda positiva em que o governo está engajado. A expectativa, segundo ele, é retomar um cronograma de redução tarifária paralisado desde 2011. Segundo Bentancourt, há grande expectativa nas negociações com a Colômbia. “Trata-se de uma janela de oportunidade que temos de aproveitar neste momento porque a Colômbia possui acordos com México, União Europeia, Coreia e Estados Unidos e em 2018 ou 2019 as tarifas do país com alguns desses países ou blocos já estarão zeradas.”

O ideal, diz ele, é que o cronograma possa ser negociado entre os países do grupo andino e o Mercosul, mas não há impeditivo de adoção de cronogramas bilaterais.

O secretário de Comércio Exterior (Secex/Mdic), Daniel Godinho, diz que a antecipação da desgravação nos acordos de complementação, inclusive o da Colômbia, tem sido negociada. Ele diz, porém, que ainda não é possível falar em prazos.

Para Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, o resultado das negociações demanda um engajamento político intenso do governo brasileiro, já que os países andinos como Colômbia e Peru têm feito seus próprios acordos, o que já tem resultado em desvio de comércio.

Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit, que reúne a indústria têxtil e de confecções, explica que os acordos de complementação econômica com os países andinos, de forma geral, estabeleceram cronogramas de desgravação mais acelerados para os parceiros do que para o Brasil, um país com uma economia maior. A ideia é acelerar a redução para o Brasil e incrementar o que está programado, com ampliação dos produtos, dentro do possível.

Por muito tempo, diz Pimentel, a política de comércio exterior ficou concentrada no Mercosul. “Mas em razão da dificuldade de alguns países, o bloco não está mais funcionando. Agora os setores estão se voltando para outros acordos. Precisamos nos integrar numa cadeia regional de valor.” Além da proximidade geográfica, a vantagem na parceria inclui legislações similares, diz. Ele lembra que o esforço para acelerar acordos, porém, precisa ser acompanhado de um projeto para integração física da infraestrutura logística e de transporte, o que reduziria custos, paralelamente à redução das tarifas. Segundo Pimentel, os países do continente americano são responsáveis por 65% das exportações brasileiras do setor têxtil e de confecções.

Denise Naranjo, diretora de assuntos de comércio exterior da Abiquim, que representa a indústria química, diz que o setor acompanha de perto as negociações sobre os acordos de complementação econômica. Segundo ela, a atenção do setor não está tão relacionada à exportação direta da indústria química.

“Acompanhamos olhando mais para a exportação indireta de produtos químicos a jusante [à frente] na cadeia”, diz. Denise explica que se houver redução a zero para as indústrias que tem o setor químico como fornecedor, o mercado doméstico do segmento cresce. Com o acordo com a União Europeia em negociação lenta, diz ela, é preciso uma agenda externa. Segundo ela, a aproximação maior em relação aos países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) é importante. No setor químico, diz, os países latino americanos representam cerca de 45% das exportações.

Abijaodi, da CNI, diz que há uma mudança em curso na forma como as empresas veem os acordos comerciais. Isso se deve à percepção da indústria de que é preciso buscar a inserção em cadeias globais, com acordos que não somente estabeleçam redução de tarifas, mas também facilitem a internacionalização das empresas brasileiras.

Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento (Cedes /Uerj), diz que o agravamento da situação econômica da Argentina certamente tem levado as indústrias brasileiras buscar mais intensamente novos destinos para exportação de manufaturados. “E a situação da Argentina não é passageira”, completa Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV). “É uma iniciativa rara da indústria, mas, com o baixíssimo crescimento da economia doméstica, a solução para a indústria é procurar o mercado externo.”

Fonte: Valor Economico