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27 jan 2014

Exportador brasileiro teme perder mercado.

Fonte: Valor Online

A desvalorização de 17% do peso argentino ante o dólar na cotação oficial nos últimos dias não traz grandes preocupações aos exportadores brasileiros de calçados, têxteis e confecções, mas deve afetar de maneira mais contundente o setor automotivo nacional. Os primeiros, que vêm enfrentando dificuldades para embarcar produtos a clientes argentinos, afirmam que a deterioração do mercado interno do país vizinho e a instabilidade causada pela política de importação adotada pelo governo de Cristina Kirchner são muito mais danosas à atividade do que movimentos cambiais.

Por outro lado, a indústria automobilística brasileira, ano passado, teve 87,5% das exportações totais destinadas à Argentina. A compra de automóveis, usada no ano passado pelos argentinos como forma de se proteger contra a inflação, deve perder grande parte da atratividade, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A venda de automóveis aos argentinos em 2013 foi a contribuição mais importante para o superávit comercial de US$ 3,15 bilhões a favor do Brasil nas trocas com o país vizinho. Do total da exportação brasileira à Argentina, 44% foram de automóveis, autopeças, veículos de carga e tratores. Para Castro, é possível que os números de embarques de janeiro já reflitam um recuo de exportação para a Argentina maior que a queda sazonal natural para o mês.

Na mão contrária, diz Castro, a indústria de produtos lácteos brasileiros também pode sentir os efeitos negativos da desvalorização do peso argentino. O segmento, avalia, pode enfrentar maior concorrência de produtos lácteos da Argentina no mercado brasileiro. “Como os preços no mercado doméstico estão altos, a grande desvalorização da moeda argentina poderá tornar esses produtos importados mais competitivos.”

Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), reclama da imprevisibilidade das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação (DJAI) adotadas pelo governo argentino, que podem barrar produtos brasileiros na fronteira. O rompante da cotação oficial do peso é visto como algo natural às condições da economia. Em 2012, as exportações do setor à Argentina foram de US$ 360 milhões. Ano passado, caíram para US$ 330 milhões.

“Esse movimento recente está cobrindo em parte a sobrevalorização forçada da moeda argentina provocada pela inflação real, mascarada pelo governo. O câmbio não se controla e cabe nos cálculos dos produtores. O problema maior é não saber se quem comprou vai receber e se quem vendeu vai conseguir entregar o produto”, afirma.

A Abicalçados, associação dos produtores nacionais de calçados, diz que o setor e os importadores argentinos já estavam trabalhando referenciados pela cotação do dólar no mercado paralelo, que ontem bateu 13 pesos. Heitor Klein, presidente da associação, diz que a inflação alta está tirando capacidade de consumo dos argentinos “deteriorando o mercado interno”. A dificuldade de embarcar calçados para o país também aparece como fator mais relevante que o câmbio para o desempenho das exportações brasileiras.

“Esse quadro de diminuição do poder aquisitivo dos argentinos é que nos preocupa. O câmbio é só consequência”, diz.