Os indicadores negativos sobre a economia brasileira, balança comercial com superávit ameaçando transformar-se em déficit e produção industrial caindo 4,3%, devem ter estimulado o sentido de urgência do governo para agir e evitar um PIB inferior a 2%. Só falta saber quanto. É possível ainda reverter o cenário negativo do primeiro semestre, com ação nas duas frentes: consumo e produção. Não se pode esperar mais do que foi feito até agora. Talvez se tenha subestimado o desafio, os efeitos da crise externa, gerando incertezas que levaram o setor privado não apenas a não investir, mas até mesmo a desinvestir em alguns casos.
Isso leva à conclusão de que não se precisa apenas de novos incentivos fiscais, tributários, monetários, creditícios, mas incentivos já.
Tudo muito claro. Nunca um diagnóstico foi tão claro e a prescrição tão precisa. Primeiro, a produção perde espaço para os importados, o governo já está agindo no câmbio para ter um dólar acima de R$ 2, mas, lembra muito bem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o problema não é esse. O desafio é reduzir custo do emprego, mas por meio de desoneração na folha de pagamento e não dos salários, porque salário é renda, é demanda. Ao mesmo tempo, apelar para que as indústrias voltem a investir.
Como? Os juros devem cair ainda mais, o real vai recuar, o governo promete generalizar a desoneração da folha de pagamento, reduzindo o custo trabalhista. Por enquanto, ela abrange apenas15 setores; virão mais. O BNDES tem e continuará tendo todos os recursos, oferecendo crédito a juros quase negativo para financiar a produção.
O Brasil tem condições melhores que em 2008 para enfrentar a crise europeia, a desaceleração da economia mundial. Tem um mercado interno intocado. O que falta? Restabelecer a confiança dos empresários para que a economia não recue para menos de 2%.
Nada lá fora. Para isso, o Brasil conta só com si mesmo. A Europa perdeu a luta e os Estados Unidos mal e mal sustentam um PIB de 2%. O caminho é o indicado por todos os economistas: fortalecer com equilíbrio a demanda interna, primeiro passo para estimular investimento e produção. Tudo isso é possível por dois fatores: o governo tem recursos para financiar a produção e espaço para aumentar os gastos; a inflação não só está sob controle, como recua.
Têxteis, um exemplo . E por que não elevar o nível de defesa dos setores industrias brasileiros mais afetados pela competição externa, principalmente a chinesa? O setor têxtil e de confecções mostra que o que se fez é bom, mas ainda é pouco. No primeiro semestre, a produção caiu 7,4%, apesar de as vendas ao varejo terem crescido 0,45%. A diferença foi coberta pelos produtos chineses. As importações de vestuário aumentaram nada menos que 39%!
Mas, pode-se argumentar, defender a indústria