Topo
Sindivestuário / Associados  / Você cria moda ou você cria roupa?
3 mar 2016

Você cria moda ou você cria roupa?

Depois da nossa entrevista com a designer Cristhiane, da marca Nume (leia aqui), um tema ficou muito latente aqui no blog e temos certeza que muitos empresários vão se identificar: muitas marcas pensam que estão criando moda, quando na verdade estão criando roupas, e existe uma diferença muito grande entre estes dois mundos.

moda

Criar moda demanda todo um processo que se inicia na existência de um “conceito “, ou seja, o que a marca representa para o público, quais são seus valores, suas características. Quando você conhece a personalidade da sua marca você sabe o que se encaixa bem nela e o que não encaixa. Basicamente é a mesma coisa que acontece conosco, humanos, porque possuímos nossa personalidade, nosso “conceito”, e adaptamos o que vemos por aí ao nosso estilo pessoal. Com as marcas de moda acontece o mesmo, estilistas provavelmente vão adaptar as tendências mundiais àquilo que a sua marca acredita. Mas para isso é importante conhecer a personalidade dela.

A partir de então, você começará a desenvolver peças e coleções, que partirão de um mesmo fio-condutor. Cada uma “conversa” com a outra, todas as criações, independente de serem de coleções diferentes, vão possuir uma mesma identidade. Grandes marcas, que possuem um profundo conhecimento de sua identidade, acabam abraçando símbolos de forma que o consumidor percebe a personalidade dela ao primeiro olhar. Um exemplo disso é a caveira do Alexandre Herchcovitch, as estampas da Farm, o perfil minimalista da Osklen, o colorido único da Louloux.

Mas então, qual a diferença entre criar moda e criar roupa?

Quando você cria roupa, você faz aquilo que acredita que os consumidores vão gostar (aquilo que “vende”), independente do perfil do público que a consome. E esse é o erro cometido por muitas marcas que iniciam no mercado e é o que faz elas sobreviverem por pouco tempo, porque suas criações mudam conforme a opinião dos consumidores. Você não acharia confuso se um amigo seu mudasse de opinião o tempo todo? Com marcas de moda acontece o mesmo! Com medo de perder vendas e anseio de fazer peças mais comerciais possíveis, as marcas acabam criando mais-do-mesmo. As saias de franja estão em alta? Vamos produzir saias de franja! A onda agora são os croppeds? Então vamos fazer croppeds de todas as cores possíveis. Mas será que o SEU consumidor, quer este tipo de produto? Muitas marcas acabam traindo seu público-alvo com peças que não pertencem ao seu estilo, e assim concorrem com gigantes da moda, que conseguem oferecer roupas praticamente iguais a um custo tão baixo que a marca não vai conseguir nem competir. Já quando você cria moda, você faz peças cheias de significado, coerentes com aquilo que a sua marca prega, e isso faz o consumidor perceber a diferença e entender quem ela é. Por mais que sua criação seja uma camiseta branca básica, ela vai ter tudo aquilo que você acredita: talvez seja a modelagem, talvez seja o tecido, talvez seja o detalhe do pé da gola, mas algo vai demonstrar que ela é diferente de todas as outras. E somente a constância de permanecer criando peças que pertencem ao seu conceito, e não se deixar levar apenas pelo que o mercado está fazendo, que significa o que é criar moda. Marcas com identidade são marcas que possuem uma vida mais longa. São marcas que conquistam fãs e não apenas clientes. Algumas podem participar de um nicho de mercado tão pequeno, que acabam quase virando uma religião.

Não estamos dizendo que não se deve criar peças comerciais, até porque sabemos que é muito difícil uma marca sobreviver sem ter itens que sejam de maior giro (a não ser que você tenha dinheiro de sobra e possa investir muito – uma realidade de poucos). O que queremos demonstrar é que toda marca precisa ter uma identidade, um estilo e voz próprias, que vai fazer até uma camiseta branca ter um significado especial.

Fonte: Moda e Negócios