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6 maio 2015

Setor de Vestuário Brasileiro: uma espécie em extinção

A queda na produção de Vestuário no Brasil, nos últimos anos tem sido acentuada. Em continuidade a esse processo de deterioração industrial têxtil e do vestuário, no primeiro trimestre foi absurdamente expressiva:  19,7% no Brasil e 24,1% no Estado de  São Paulo. O primeiro trimestre sempre é difícil para o Setor do Vestuário, mas nunca vimos algo tão ruim.

Em São Paulo tende a ser maior, pois produzir aqui é muito caro. Apesar de termos uma mão de obra muito especializada e estarmos mais próximos dos principais fornecedores de matéria-prima e do principal polo consumidor do País, os custos de produção são bem maiores que em outros Estados  — efeito da chamada “guerra fiscal”.

Há hoje uma forte tendência de migração destas empresas para outros Estados.  Além disto, algumas empresas optam em deixar sua sede em São Paulo, mas fecham sua unidade industrial e pulverizam sua produção por diversas oficinas de costura que estão no Regime do Simples. Só assim conseguem artificialmente reduzir a  carga tributária incidente em seus produtos.

Realmente nunca vimos uma crise destas nos últimos 40 anos.

Se os números de queda de produção assustam os economistas, imagine os empresários? A crise de 2008 foi muito menos traumática que a atual.

Historicamente, o Setor do Vestuário é o que primeiro começou a sofrer com a entrada de produtos importados. Assim, ante a diferença, sempre ascendente, de carga tributária entre nossos concorrentes internacionais, caso da China, a cada ano estamos perdendo competitividade.

No Brasil temos uma carga tributária de 42% em uma peça de Vestuário. Na China essa mesma peça não chega a 13%,  além de inúmeros benefícios para exportação que o Governo Chinês oferece às suas indústrias. Lá o foco é a maciça geração de empregos.

Preços

No início as indústrias nacionais foram tentando ajustar o preço de seus produtos, para poder competir com os importados, à custa de suas “margens”. Isto se nota claramente se analisarmos a inflação no Brasil levando em consideração o IPCA: nos últimos 10 anos a inflação medida pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisa foi de 369% contra  231,9% do Vestuário. Ou seja, corresponde a pouco mais da metade, ou 60% do Índice.

Se usarmos o IPC a situação se mostra ainda mais crítica. No mesmo período a inflação geral no Brasil pelo IPC foi de 303,3% contra apenas 43,1% do Vestuário.

A produção de vestuário nacional vem caindo na proporção média de 5% a 6% anualmente, há uns 5 a 6 anos –parte por importação de peças de vestuário pelo varejo e mais recentemente até por confecções brasileiras.

Importações

As importações por parte de algumas Indústrias tem como mote a sua sobrevivência. Basta ver o caso das Lojas Riachuelo. Um aumento de 3.517% de importação de produtos. E como obviamente suas vendas aos consumidores não subiram nesta proporção (nem de perto) esta importação teve como consequência lógica uma queda violenta em sua produção nacional.

O mesmo ocorreu com todo o Varejo de grande superfície (Renner, C&A, etc…). Além disto, importadores independentes passaram a importar vestuário e vender para o pequeno varejo, que não teria acesso fácil a estes produtos importados, e ainda podem receber estas peças, customizadas com a etiqueta de sua marca.

Infelizmente as importações crescem em um nível maior que a queda de produção. Se analisarmos os últimos anos, o varejo vem crescendo à ordem de 5% ao ano.

Com a queda de produção de 5% temos um gap de 10%. Visto num gráfico, aparece o que os economistas chamam de “Boca de Jacaré”. Ou seja, a curva de importação subindo e a de produção caindo.

Câmbio

O valor cambial de hoje de aproximadamente R$ 3,05 por  US$ 1,00 ainda é muito baixo para tornar “contida” a importação. Para que realmente o câmbio tornasse impeditiva a importação, deveríamos estar com R$ 3,60 por US$ 1,00 se considerarmos a inflação dos últimos dez anos e o valor do dólar na ocasião. Como a probabilidade disso ocorrer é baixa, devemos ver, a cada dia, uma enxurrada de produtos importados invadirem o mercado brasileiro.

Apesar de ter indústrias modernas, só conseguimos ser competitivos da porta para dentro das fábricas. Da “porta para fora” perdemos toda a competitividade, devido a enorme diferença de cargas tributárias entre o Brasil e a China.

 

RTCC

Para que o setor inicie um processo de recuperação de competitividade, precisamos de uma clara e forte desoneração.  Para isto entramos com o pedido do RTCC (Regime Tributário Competitivo para Confecção) junto ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exteior e Ministério da Fazenda.

Trata-se um regime tributário diferenciado, somente para confecções, em que as confecções se mantêm no Simples independente de seu faturamento.

Assim teríamos uma redução de 17% para 5% nos Tributos Federais e as empresas não teriam empecilho econômico tributário para crescer. Voltaríamos a ter economia de escala e um grande benefício no controle de qualidade. Seria uma medida muito benéfica, que se não resolve completamente o problema, daria uma alavancada muito grande ao setor em termos de competitividade.

Porém, se nada for feito em tempo os empregos e as empresas do Setor de Vestuário Brasileiro terão seus dias contados a caminho da extinção.
Ronald Masijah – Presidente do Sindivestuário