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7 dez 2015

Grandes redes superam as butiques no comércio de roupas

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Thinkstock

Coleções assinadas por estilistas, facilidade de pagamento e a prática de fast fashion levam as lojas de departamento a ganhar participação de mercado

As 149 mil lojas de roupas de bairros espalhadas pelo país perderam para as grandes redes de departamento, como Renner, Riachuelo e C&A, a liderança nas vendas de vestuário no país.

Levantamento do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial) com base em informações da indústria e do varejo de confecção revela que, no ano passado, as lojas de departamento especializadas foram responsáveis pelo comércio de R$ 54,6 bilhões em roupas.

As lojas independentes, mais conhecidas por butiques, venderam R$ 53,3 bilhões.

Em peças, o pequeno varejo de roupas ainda continua na frente. Em 2014, o setor escoou 2,4 bilhões de peças e, as grandes redes, 1,948 bilhão de peças, de acordo com o Iemi.

As lojas de departamento especializadas responderam por 30% dos valores e 30% dos volumes comercializados pelo varejo de vestuário. As butiques, com 29% e 37%, respectivamente.

Com a crise, a expectativa é que, neste ano, tanto as grandes redes como os pequenos lojistas de roupas venderam menos do que em 2014, ano em que todo o varejo de vestuário, incluindo redes menores, lojas não especializadas e hipermercados, movimentou R$ 184 bilhões.

Ainda assim, as redes de departamento, muito provavelmente, continuam abocanhando mercado das butiques, que estão hoje mais descapitalizadas por conta da escassez de crédito, da queda do faturamento e do aumento de custos.

É até possível que, neste ano, de acordo com o Iemi, as lojas independentes também tenham perdido para as grandes redes a primeira posição em volume de peças vendidas.

Aliás, se considerada a comercialização em volume das lojas de departamento especializadas, de redes de pequenas lojas (Gregory, Ellus, Colcci, Track & Field), lojas de departamento não especializadas (Pernambucanas, Americanas) e hipermercados, as butiques já não detinham a liderança no ano passado, como mostra o quadro a seguir.

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O avanço das redes de departamento no comércio de roupas no país teve início em 2005. Foi a partir daí que as empresas passaram a lançar coleções assinadas por grandes estilistas, agregando moda e valor aos produtos. A Riachuelo foi uma das pioneiras em adotar essa prática.

“Até então, as redes de departamento eram simplesmente vendedoras de preços, não investiam sequer em vitrines. Isso mudou. Elas passaram a trabalhar com grifes, em vez de marcas próprias, que eram pouco conhecidas”, afirma Marcelo Prado, diretor do Iemi.

Se esse processo se mantiver, de acordo com Prado, a tendência é do surgimento no Brasil de redes de departamento nos padrões americanos, com lojas de grandes marcas dentro delas.

As redes  Macy’s, Bloomingdales e Saks operam com esse formato nos Estados Unidos. No Brasil, a Daslú chegou a experimentar um modelo parecido, mas apenas com artigos de luxo. Dentro do espaço da loja havia até um revendedor de helicópteros.

 

FACILIDADE DE PAGAMENTO

As grandes redes de departamento também estão ganhando cada vez mais espaço no varejo de vestuário porque, além de trabalhar com produtos de melhor qualidade, diz Prado, oferecem prazos de pagamento para os clientes, o que se tornou essencial, principalmente  neste ano de crise.

Há casos em que o cliente pode parcelar a compra de uma roupa em até oito vezes, prazo que, no passado, só era dado por lojas especializadas em eletroeletrônicos e móveis.

 

EXPANSÃO DOS SHOPPINGS

Para o Iemi, o que explica também a expansão das grandes redes em vendas de roupas é a entrada delas em cidades muito pequenas, antes dominadas pelas butiques, no rastro dos shoppings centers, que concentram 33,5% dos pontos de venda que comercializam vestuário no país.

Os outros 66,5% correspondem às lojas de rua, localizadas principalmente em regiões centrais das cidades.

EXPERIÊNCIA DE COMPRA

Há ainda motivos relacionados às experiências de compras, como o movimento do fast fashion, iniciado pela espanhola Zara, que leva as redes a lançar peças novas quase diariamente. “O consumidor quer novidade o tempo todo”, diz Prado.

Há cerca de dez anos, as redes de departamento decidiram entrar para o mundo da moda, mas o forte trabalho para aumentar participação de mercado começou em 2010.

Essa é a avaliação de Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), entidade que reúne 21 das maiores empresas do setor de vestuário, acessórios e calçados do país.

“Ganhar competitividade e aumentar a produtividade fazem parte das ações de expansão dos negócios das redes, que vinham muito bem seguindo nessa linha até o ano passado”, diz Lima.

Este ano, segundo afirma, está mais desafiador para as redes, mas os planos de melhoria de gestão, logística e expansão estão mantidos. Há um grande esforço das redes de departamento, diz ele, para investir em inovação, qualidade de produtos, o que justifica, em alguns casos, até ter preço maior do que o de uma butique.

 

ATENDIMENTO

“Isso tem colocado as grandes redes em vantagem em relação aos pequenos. O que as lojas menores devem fazer, a partir de agora, é investir no que elas podem se diferenciar, em atendimento”, afirma Lima. Até porque o modelo das grandes redes é o de autosserviço.

Alguns comerciantes já sabem disso.

Na tarde da última quinta-feira (03/12), Eneida Lemos, assessora política, escolheu oito peças na La moda, loja de roupas multimarcas do centro de São Paulo, para experimentar em casa.

O compromisso com Laudicéia Bernardo, dona da loja, era devolver as roupas que não caíssem bem somente na semana seguinte.

A lojista e a cliente são velhas conhecidas. A relação de confiança entre elas, de cerca de dez anos, chegou a ponto de permitir que Eneida saísse da loja com uma sacola de roupas sem pagar nada na hora. “Estamos procurando atender da melhor forma o cliente para não perder venda”, diz Laudicéia.

Eneida diz que costuma ir às grandes redes, como Renner e Riachuelo, mas admite que precisa ´garimpar’ para achar uma peça que realmente gosta em lojas de departamento.

“Aqui, gosto dos produtos, da proximidade com a vendedora, das facilidades e do atendimento”, afirma Eneida, para alegria de Laudicéia, que ouvia a conversa. Afinal, ter uma cliente tão fiel é um alívio para quem viu o faturamento diminuir 30% neste ano.

O atendimento, na avaliação de Prado, será cada vez mais importante para a sobrevivência da loja independente. O lojista, diz ele, também terá de se especializar. E, para isso, terá de estudar muito bem os hábitos e as necessidades de consumo do bairro em que atua.

“Não adianta ter uma loja que vende de pijama infantil a roupa de festa para mulher. É preciso ver o que os clientes necessitam e apostar em uma linha de produtos bem diversificada para atender determinado público. Se for lingerie, é preciso se especializar em lingerie, agregando valor”, diz Prado.

 

COMPETIÇÃO COM LOJAS DE FÁBRICA

A expansão das lojas de departamento especializadas em roupas está tirando mercado das lojas independentes. Mas não é só isso. O que tem prejudicado as vendas das butiques são também as lojas de fábrica, como as da Lupo (meias), da Hope (lingeries), da Hering.

Com 25 anos em operação, a Companhia das Meias, era uma típica loja multimarca de lingerie e meias. No ano passado, tinha sete lojas em shopping e uma na rua, no bairro de Moema.

“Hoje, só tenho uma loja no shopping Ibirapuera e uma na rua. Fechei todas as outras. O problema, no meu caso, não são os magazines, mas, sim, as lojas de fábrica”,  afirma Tania Rayes, sócia-proprietária da Companhia das Meias. “Os shoppings não querem mais as multimarcas, que estão morrendo.”

A Darling, confecção de lingeries, que abastece 2 mil pontos de vendas no país, tem sentido a dificuldade dos lojistas para manter o negócio.

Pelo menos 15% dos 2 mil clientes não estão conseguindo pagar as duplicatas em dia. No ano passado, os atrasos acima de 90 dias, não ultrapassavam 7% da carteira de clientes.

“Tinha cliente que não atrasava o pagamento um dia sequer. Hoje, esse mesmo cliente atrasa 30 dias”, diz Ronald Masijah, sócio-diretor da Darling e presidente do Sindivestuário, sindicato que reúne as confecções paulistas.

 

NOVO MODELO DE NEGÓCIO

Nos últimos anos, o que se vê, na verdade é uma mudança de modelo de negócio nos canais de vendas de roupas, na avaliação de Gustavo Carrer, consultor do Sebrae SP.

“As marcas de confecção que não se organizarem para vender pelo modelo de marca própria ou pelo modelo de franquia vão sofrer mais”, diz ele.

Na avaliação de Carrer, não dá para afirmar que o país deve assistir o fim das lojas multimarcas. O que deve ocorrer é que este modelo de negócio deve se manter em regiões mais distantes dos grandes centros e mesmo em cidades pequenas.

“As lojas de bairro podem se manter com marcas alternativas, mais novas, aquelas que ainda não se estabeleceram ou não têm capacidade de operar pelo sistema de franchising”, diz.

Para sobreviver neste mercado tão competitivo e agora em crise, não há fórmulas, na avaliação de Flávia Santin Frugiuele, sócia- proprietária da FND Santin, confecção que há 30 anos se dedica à produção de roupas de seda para mulheres.

“É preciso oferecer um produto que desperte o desejo do consumidor”, diz ela.

A crise resultou numa queda de 30% do faturamento da FND.

Mas ela acredita que, por atender um público de maior poder aquisitivo, pode até se recuperar mais rapidamente, até porque, com o dólar mais caro, as clientes vão deixar de viajar e, portanto, vão acabar comprando roupa de festa aqui no Brasil.

“É o que eu espero que aconteça”, diz Flávia.

Fonte: Diário do Comércio
Por: Fátima Fernandes